Apesar de o Apóstolo André (em grego: Ἀνδρέας (Andréas)) ser chamado na tradição ortodoxa por Prōtoklētos (Πρωτόκλητος), ou seja, o “Primeiro Chamado”, esse cristão, irmão de Simão (Pedro), sequer foi “chamado por Jesus" (tal como, também, aconteceu com João). Essa é uma das teses que eu defendo aqui, além de estabelecer uma correta ordem cronológica e de lugares, em que os fatos sobre os primeiros doze chamados (ou aceitos) ocorreram.
Tal qual João (o evangelista, que também não se pode dizer que foi um "chamado por Jesus"), com quem André frequentemente andava, primeiro por causa da condição de sociedade das famílias de ambos no negócio da pesca no povoado de Betsaida e, posteriormente, porque eles dois, juntos, deixaram temporariamente tal negócio, de livre e espontânea vontade, para se tornarem, por um curto tempo, discípulos de João Batista.
Assim, muito embora eles de fato tenham sido os dois primeiros discípulos a serem conhecidos por Jesus, nem André e nem João foram "chamados por Jesus".
André, junto com João, simplesmente passaram a seguir a Jesus, de modo deliberado, quando, estando eles junto com João Batista, o qual “vendo passar a Jesus, disse: Eis aqui o Cordeiro de Deus.” (João 1:36). Deste modo, estes dois Apóstolos, João e André, apesar de não terrem sido escolhidos por Jesus, foram, ambos,
bem-aceitos por ele.
Quando André e João já estavam seguindo jesus (possivelmente até mesmo sorrateiramente), quando ele se voltou e lhes disse:
Vinde, e vede. Foram, e viram onde morava, e ficaram com ele aquele dia; (João 1:39).
Tudo isso ocorreu em Betabara (ou, nas cercanias de Batabara, ou Bethabara) a dita Betânia além do Jordão, ou ainda "casa do vau", ou "local de travessia"), o local do batismo nas águas do Rio Jordão, não apenas do próprio Senhor Jesus, mas, também, de milhares de outros que ouviram e aceitaram a pregação de João Batista, e dentre os quais saíram muitos dos que se tornaram em os primeiros cristãos.
Quanto ao fato de André e João sequer terem sido pessoalmente escolhidos como discípulos, mais tarde, o Senhor Jesus explicaria tal procedimento de eleição, que seria registrado pelo próprio João: “
Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora. ... Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer;” (João 6:37,44). Mas não há dúvidas de que eles foram, de fato, dentre os discípulos, os primeiros a conhecerem Jesus, e que eles foram confirmados, posteriormente, quando da escolha formal dos 12 Apóstolos.
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O batismo de Jesus marca o início do ministério público de Jesus. Este evento é narrado nos três evangelhos sinóticos Mateus, Lucas e Marcos, enquanto que em João 1:29-33, que não é uma narrativa direta, João Batista testemunha o episódio. |
Um fato interessante de se registrar aqui, é que nós, cristãos, sabemos que imediatamente após Jesus ser batizado por João Batista, ocorreu que “Então Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. (Mateus 4:1). Também sabemos que, nessa ocasião, o tentador só se aproximou de Jesus “Depois de (Jesus) jejuar quarenta dias e quarenta noites, (quando Jesus) teve fome.” (Mateus 4:2).
Ora, sabemos que no dia em que André e João seguiram Jesus, tornando-se, assim, em os dois primeiros futuros Apóstolos, Jesus já havia sido batizado por João Batista, pois, no dia anterior, ele mesmo (João Batista) testificava: “Eu vi o Espírito descer do céu como pomba, e repousar sobre ele.” (João 1:32), enquanto o próprio Jesus passava por ali, por onde estava o João Batista, e muitos de seus seguidores e gente do povo, naquele exato momento. Mas André e João, não o seguiram naquele mesmo dia, só o fazendo no dia seguinte.
Ora, é sabido, também, que a palavra de Deus não pode mentir, então, quando se está falando da vida de um homem, como, obviamente, era o caso de João Batista, onde estiver escrito “no dia seguinte”, isto, de fato, tem que significar “um dia posterior àquele imediatamente anterior”. Também é sabido que, João Batista, desprovido de recursos materiais ou econômicos como era, deveria andar somente a pé, o que restringiria a sua mobilidade diária, quando muito, para no máximo umas poucas dezenas de quilômetros.
Também não havia motivo algum para João Batista se afastar de Betabara no seu dia a dia, pois ali havia as condições ideais para a realização de um dos propósitos que Deus havia colocado para a vida dele, que era o de batizar as pessoas nas águas. O outro propósito era o de simplesmente explicar que aquele batismo que ele operava era para o perdão dos pecados, para a conversão a Deus, e para a chegada do Messias, que já vinha trazendo o Espírito Santo.
Assim, desde a chegada de João Batista ali, a localidade de Betabara havia sofrido uma transformação funcional: de simples lugar costumeiro de travessia do Rio Jordão, ela passou a ser um local de grande afluência e de concentração de pessoas, algumas possivelmente apenas curiosas, outras dispostas a ouvir atentamente a João Batista, dentre as quais muitas acabavam por se arrepender, e aceitando o batismo.
A narrativa de João, capítulo 1, o termo “
dia seguinte”, aparece três vezes, sendo que, na primeira dessas ocorrências, tal termo é usado para separar o dia em que Jesus passou ao largo pelo local onde operava João Batista, que então aproveitou a ocasião para testificar sobre ele para muitas pessoas que estavam ao seu redor.
Neste dia, Jesus não parou ali, ele apenas passou, e, passando, nem foi seguido por André e João, e não há sequer evidencia alguma de que André e / ou João estivessem também, ali, em meio a multidão de Betabara, naquele dia, que foi antecedido pelo dia em que ocorreu o evento de “o testemunho de João, quando os judeus mandaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para que lhe perguntassem: Quem és tu?” (João 1:19).
Sobre este evento em que “os que tinham sido enviados eram dos fariseus. E perguntaram-lhe, e disseram-lhe: Por que batizas, pois, se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta?” (João 1:24-25), como também sobre o evento da passagem ao largo de Jesus por ali no dia seguinte e, ainda, do próximo dia, em que João e André, enfim, seguiram e estiveram com Jesus, nós sabemos, com toda certeza, duas coisas:
- A primeira é que todos estes tais eventos ocorreram depois do retorno de Jesus dos seus quarenta dias de provação no deserto;
- A segunda é quanto ao local em que eles ocorreram: “Estas coisas aconteceram em (ou nas proximidades de) Betabara, do outro lado do Jordão, onde João estava batizando.” (João 1:28), e não nos confins de Zebulom e Naftali, "numa casa de praia enorme em Cafarnaum, com acomodações para mais de 20 pessoas", como, erroneamente, acreditam alguns, por causa de pregações falsas.
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A localidade de Betabara não está mais distante do que uns 8,5 km do centro da atual (e também da antiga) cidade de Jericó (a cidade situada em mais baixa altitude de toda a Terra), porém, Betabara dista a mais de 30 km da cidade de Jerusalém. |
Isso revela, também, que João Batista, não foi preso enquanto Jesus estava passando pela provação dos quarenta dias no deserto, como alguns erroneamente creem mas, sim, que depois de terminado o período daqueles quarenta dias, e passada a provação maior que veio ao final deles, “Então o diabo o deixou, e anjos vieram e o serviram” (Mateus 4:11), e, ainda deu tempo de que Jesus, com as forças recuperadas e multiplicadas, retornasse para o local onde João Batista ainda prosseguia batizando, e onde ele acabaria por encontrar com seus dois primeiros futuros Apóstolos.
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Mapa assinalando (em vermelho) ambas as localizações (de Betabara e de Betsaida,
distantes. entre si, em cerca de 120 km uma da outra). O povoado de Betsaida
aparece com uma "?" ao lado, pois, de fato, por conta de algum tipo de
cataclismo, ele desapareceu do mapa (e da história) e seu sítio arqueológico
exato é procurado (e questionado) até hoje. |
Também, parece claro, que este lugar deve ser a mesma localidade de Betabara (Betabara não era uma cidade, e possivelmente sequer um vilarejo havia por ali, enquanto que, para quem não pudesse acampar em barracas, as acomodações mais prováveis, poderiam se encontrar apenas em cavernas das imediações). João Batista não se mantinha deslocando de uma localidade para outra. Em vez disso ele mantinha-se diligentemente ocupado, batizando centenas de pessoas a cada dia. Também, por manter-se fixo no local que era o mais propício, ele era mais fácil de ser achado, tanto pela multidão dos que buscavam pelo batismo que ele operava, como também o foi para aqueles emissários dos fariseus de Jerusalém, que ora o haviam interrogado, como, ainda, por Jesus, que acabara de retornar da sua provação quarenta dias no deserto. Além do mais, por manter-se ali, na margem oposta do Rio Jordão, e cercado, diariamente, por um grande número de pessoas, isso provia ao Batista uma maior segurança, caso alguma autoridade viesse com guardas, e procurasse lançar mãos dele, e prendê-lo.
A situação da vida de João Batista era a de comprometimento com o plano do Reino de Deus, porém, naquele ponto, com relação a sociedade e a autoridade judaica, a situação da vida dele já era toda complicada:
"E a multidão o interrogava, dizendo: Que faremos, pois? E, respondendo ele, disse-lhes: Quem tiver duas túnicas, reparta com o que não tem, e quem tiver alimentos, faça da mesma maneira. E chegaram também uns publicanos, para serem batizados, e disseram-lhe: Mestre, que devemos fazer? E ele lhes disse: Não peçais mais do que o que vos está ordenado. E uns soldados o interrogaram também, dizendo: E nós que faremos? E ele lhes disse: A ninguém trateis mal nem defraudeis, e contentai-vos com o vosso soldo. E, estando o povo em expectação, e pensando todos de João, em seus corações, se porventura seria o Cristo, respondeu João a todos, dizendo: Eu, na verdade, batizo-vos com água, mas eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de desatar a correia das alparcas; esse vos batizará com o Espírito Santo e com fogo." (Lucas 3:10-16)
E a multidão o interrogava, dizendo: Que faremos, pois?
E, respondendo ele, disse-lhes: Quem tiver duas túnicas, reparta com o
que não tem, e quem tiver alimentos, faça da mesma maneira.
E chegaram também uns publicanos, para serem batizados, e disseram-lhe: Mestre, que devemos fazer?
E ele lhes disse: Não peçais mais do que o que vos está ordenado.
E uns soldados o interrogaram também, dizendo: E nós que faremos? E
ele lhes disse: A ninguém trateis mal nem defraudeis, e contentai-vos
com o vosso soldo.
¶ E, estando o povo em expectação, e pensando todos de João, em seus corações, se porventura seria o Cristo,
Respondeu João a todos, dizendo: Eu, na verdade, batizo-vos com água,
mas eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu, do qual não sou
digno de desatar a correia das alparcas; esse vos batizará com o
Espírito Santo e com fogo.
Lucas 3:10-16
Outra coisa que parece bastante clara é que, André e João vieram desde Betsaida, na região do Mar da Galileia, onde eles trabalhavam como pescadores, para esta longínqua localidade de Betabara, desde o extremo sul do Mar da Galileia, a pé, uma vez que. apesar deste lago ser todo navegável, já o Rio Jordão, para descer ao sul, não o era navegável (e não o é até os dias de hoje:
profundo e turbulento durante a estação chuvosa, o Jordão se reduz a um fluxo lento e superficial durante o verão), em nenhuma época do ano, portanto demandando vários dias de caminhada (ao menos uns 6 dias, eu suponho, para apenas para homens jovens e fortes), com objetivo específico de encontrarem com João Batista, e, em especial, de serem batizados por ele.
Todavia, foi apenas a partir do momento em chegaram ali, em Betabara, e serem batizados por João Batista, que André e João começaram a ouvir falar sobre Jesus, por testemunho do próprio João Batista. Muito provavelmente, João e André partiram de Betsaida (ou de Cafarnaum), e chegaram a Betabara, apenas com o objetivo específico de conhecerem, de ouvirem pessoalmente a pregação, e de serem batizados por João Batista, em um momento qualquer em que o Senhor Jesus já cumpria os seus quarenta dias de provação no deserto.
Mas, afinal, onde fica esta tal localidade de “Betabara, do outro lado do Jordão, onde João estava batizando.” (João 1:28), e que, também, é o mesmo local em que o próprio Jesus (além de de André e João) foi batizado?
Betabara, pronunciado beth-ab-bra, que é atestada tanto no Mapa de Madaba do século 6 dC, quanto no Talmude, como o nome do local tradicional onde João Batista batizava e, também, local do Batismo de Jesus Cristo, tem o mesmo significado que Betânia
(do hebraico, que significa "Casa de Passagem") e
fica na atual Jordânia, às
margens do Jordão, defronte de Jericó, e
ela se distingue da outra localidade denominada Betânia, que é onde vivia Lázaro e suas irmãs (uma cidadezinha que é bem mais próxima a Jerusalém), como sendo de "além do Jordão."
O afluxo de pessoas com interesse naquele local se manteve por longo tempo e, muito
provavelmente, o Local do Batismo já havia se tornado uma estação de peregrinação, mesmo antes da morte do Senhor Jesus, por
causa da fama popular da obra de batismo de
João Batista, e desde aqueles dias em que ele, ali, diariamente batizava multidões.
Muito provavelmente, também, nem todos aqueles que se batizaram com o
Batista se tornaram, posteriormente,
cristãos. Deduzir isso é muito simples, pois, as pessoas que viviam naquele tempo não eram muito diferentes das pessoas que vivem hoje: sabedores de haver pronunciação de profecias em algum local, muitas pessoas acorriam, para ver se haveria bençãos a serem recebidas, mas nem todas se dispunham, a manter, posteriormente, uma vida de santidade.
Muito
mais provavelmente, ainda, depois que João Batista morreu, muitos de
seus discípulos mais leais ainda permaneceram naquela área, e
também, com toda certeza, podemos dizer
que aquele local foi, de fato,
o berço do cristianismo, pois foi ali que Jesus encontrou João e André, e apenas
a estes dois ele
tomaria consigo dos que se ajuntavam a João Batista, diretamente dali daquele local.
Com o transcorrer dos anos, posteriormente a morte e ressurreição do Senhor Jesus, cristãos retornaram ali para visitar o local Igrejas foram construídas próximas daquele
local, enquanto monges viveram em cavernas das imediações (a imitação do Batista e do próprio Jesus),
e muitos peregrinos visitaram o local, continuamente, até próximo
do século 14, quando, então, ir a leste do Rio Jordão passou a não ser mais
uma jornada segura e, sem nenhuma garantia de segurança, a
peregrinação para o local tornou-se cada vez menos frequente, e
depois praticamente parou.
Um
estudioso de Jerusalém descobriu o mapa de Madaba, em Madaba atual
Jordânia, em 1897. Este mapa é um mosaico século 6
representando um mapa do Oriente Médio da
época. A descoberta e posterior análise do mapa levou a um
interesse renovado sobre a localização exata do Local do Batismo.
Peregrinos começaram a retornar para a área a leste do rio Jordão,
na esperança de encontrar pistas sobre a localização do site.
No
final do século XX, durante uma viagem ao Monte Nebo (aquele de onde Moisés pode contemplar, apenas de longe, a terra prometida), o príncipe
jordaniano Ghazi
bin Muhammad conheceu o arqueólogo e monge Piccirillo, que explicou
ao príncipe Ghazi sobre o significado do local do Batismo, bem como
a possibilidade de se buscar encontrá-lo, uma
vez que Israel e Jordânia já haviam
assinado um tratado de paz recentemente.
Por
fazer parte da zona anteriormente militarizada, o príncipe
Ghazi arranjou
com os militares uma visita junto com
Piccirillo ao
local e, em sua visita, eles encontraram
padrões de mosaico e ruínas de uma igreja. Foi o suficiente para o
príncipe Ghazi pedir uma investigação mais aprofundada.
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E quando os que levavam a arca, chegaram ao Jordão, e os seus pés
se molharam na beira das águas (porque o Jordão transbordava sobre
todas as suas ribanceiras, todos os dias da ceifa), (Josué 3:15) |
Logo
depois, foi dado acesso ao local a uma
equipe de arqueólogos, e um levantamento
de informações obtidas a partir das
tribos beduínas locais. Com isso,
muitos vestígios arqueológicos mais começaram
a ser descobertos:
Cerâmicas,
mosaicos, cavernas, e mármores.
A maioria destes eram sobre uma pequena colina conhecida pelos
moradores como "Colina de Elias”.
Quanto
mais escavações
eram realizada
ali, mais
foram sendo
encontrados os restos mortais de três
grandes piscinas do
período romano. Um sistema de água vasto foi encontrado, e em
seguida, os restos de um grande mosteiro, que foi identificado
como o mosteiro
do século 5, construído
por um monge chamado Rhotorius.
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Pararam-se as águas, que vinham de cima; levantaram-se num montão, mui longe da cidade de Adão,
que está ao lado de Zaretã; e as que desciam ao mar das campinas, que é o Mar Salgado,
foram de todo separadas; então passou o povo em frente de Jericó. (Josué 3:16) |
Outra
coisa muito interessante de se observar, com respeito a localidade de
Betabara, é que ela é, também, conforme se pode constatar pela legenda das figuras acima, o local aproximado em que ocorreu de o povo israelita passar a travessia do Rio Jordão, quando entrou, ao comando de Josué, na terra prometida.
Ali nas proximidades de Betabara (e não longe dali), Jesus permaneceu desde o fim dos quarenta dias de sua provação no deserto, até João Batista ser preso, a mando de Herodes. Depois de despedir João e André, para que estes
pudessem retornar
para a sua origem, a vila pesqueira de Betsaida (casa da pesca, em
hebraico), uma povoação a nordeste do Mar da Galileia, situada a cercas de uns cinco quilômetros
da cidade de Cafarnaum, o próprio Jesus permaneceu ali nas cercanias de Betabara, por mais algum tempo ainda,
enquanto
durou o ministério de João Batista.
Mesmo
que na ocasião Jesus já estivesse batizado e, portanto, já revelado a si mesmo, soubesse algo a respeito do curto tempo que restava
para que João Batista fosse preso, a dupla André e João, apesar de, por causa da evidente opressão reinante poderem até mesmo imaginar isso, decerto eles não o poderiam saber ao certo.
Apesar de curiosos em conhecer o Messias, e do grande prazer
que sentiram por poderem passar um dia na companhia de Jesus (o que deve ter ocorrido, provavelmente, em alguma caverna, e não em uma casa, como se imagina),
eles tinham, também, plena consciência
das suas obrigações familiares, como homens israelitas, que eles haviam deixado para trás, e como
suas famílias dependiam, também, do trabalho deles, eles sabiam
que precisavam retornar a Betsaida.
O
livro de Marcos nos narra claramente:
“Depois que João foi preso, Jesus foi para a Galileia, proclamando
as boas novas de Deus. "O tempo é chegado", dizia ele. "O
Reino de Deus está próximo. Arrependam-se e creiam nas boas novas!”
(Marcos 1:14-15). Ao retornar a Galileia, Jesus passou por Nazaré, aonde provavelmente pôde rever sua mãe, Maria. Entretanto ele não permaneceu ali. O livro de Mateus nos dá uma a
confirmação disso,
explicando nos, ainda, mais alguns ricos
detalhes sobre o fato:
“Quando
Jesus ouviu que João tinha sido preso, voltou para a Galileia.
Saindo de Nazaré (local de onde Jesus havia partido antes de ser
batizado por João Batista), foi viver em Cafarnaum, que ficava junto
ao mar (da Galileia),
na região de Zebulom e Naftali, para cumprir o que fora dito pelo
profeta Isaías: "Terra de Zebulom e terra de Naftali, caminho
do mar, além do Jordão, Galileia dos gentios; o povo que vivia nas
trevas viu uma grande luz; sobre os que viviam na terra da sombra da
morte raiou uma luz". Daí em diante Jesus começou a pregar:
"Arrependam-se, pois o Reino dos céus está próximo".”
(Mateus 4:12-17).
Muito provavelmente, a escolha de ir para Cafarnaum não foi porque Jesus teve alguma preocupação especial de fazer cumprir aquela profecia sobre si mesmo, mas porque ele sabia que próximo dali ele poderia reencontrar e rever aqueles seus dois novos amigos: André e João. Ao que tudo indica, aquele único dia em que eles passaram juntos próximo a Betabara, havia sido suficiente para confirmar e selar uma promessa de reencontro, mesmo que ela não tivesse sido explicitamente declarada entre eles, mas que, agora, ocorreria naturalmente, "andando à beira do mar da Galileia" (Mateus 4:18).
Deste
modo, naquilo que se encontra narrado
no livro de João, mais especificamente entre os versos 39, que
encerra uma descrição de um novo evento, que
começa no verso 40, ou seja, do dia em que
André e João passaram com Jesus, quando eles três ainda
estavam em Betabara, até
o dia em que, já todos havendo retornado ao norte, eles se reencontraram em Betsaida,
André “achou primeiro a seu irmão
Simão, e disse-lhe: Achamos o Messias (que, traduzido, é o
Cristo).” (João 1:41), é evidente que transcorreu um
certo tempo, um
tempo nada curto, de
vários dias (ou mesmo de semanas, sem que seja possível determinar ao certo).
Nesta
ocasião do reencontro, André tomou Pedro “E levou-o a Jesus. E, olhando Jesus
para ele, disse: Tu és Simão, filho de Jonas; tu serás chamado
Cefas (que quer dizer Pedro). (João 1:42). No entanto, esse primeiro encontro, arranjado, entre Jesus e Pedro, ainda
não seria em praticamente nada o suficiente para convencer Pedro da veracidade de que Jesus fosse o Messias, e muito menos de que ele devesse seguir Jesus. Desde modo, nada mudou e, tanto João, tal qual André, apesar de crerem em Jesus, também continuaram a trabalhar na
pesca, com os seus irmãos,
e vivendo em Betsaida, pois,
eles todos, juntos com Zebedeu, formavam
uma mesma única
empresa de pesca, da qual, evidentemente, dependia a manutenção de recursos para as suas.
Também
não há nenhuma evidência positiva de
que algum dos demais que viriam a se tornar no grupo dos doze Apóstolos, além de João e André, teriam estado em Betabara e sido batizados por João Batista, de modo que, João e André teriam sido, sim, os
primeiros que creram em Jesus como Messias, além do próprio João
Batista. Por seu turno, imediatamente após este reencontro, Jesus ainda não pedia nem a João, e nem a André, que passassem a segui-lo.
Apesar de João e André ainda não terem presenciado nenhum sinal em especial (algum milagre) da parte de Jesus, eles tinham a palavra de João Batista, e tudo leva a crer que foi por isso que eles creram, de modo suficiente para que eles já dessem testemunho entre os seus parentes e amigos, de terem encontrado em Jesus o Messias.
Assim, “No
dia seguinte (após ter mudado o nome de
Simão para
Pedro) quis Jesus ir à Galileia (o que, provavelmente, em condições normais, custou
lhe uma travessia de barco), e achou a Filipe, e disse-lhe: Segue-me. E
Filipe era de Betsaida, cidade de André e de Pedro.” (João
1:43-44).
Como
Filipe era, também, proveniente de Betsaida, um povoado deveras pequeno, provavelmente ele também estivesse envolvido
com o negócio da pesca (atividade em torno da qual girava quase tudo naquela localidade). Muito provavelmente, também, Felipe já conhecia, de antemão, André e João, por meio dos quais ele
já ouvira, antes daquele encontro dele com Jesus, ao menos algum comentário deles sobre Jesus.
Todavia,
ao que parece, Filipe não obedeceu ao pedido do Senhor Jesus de
imediato (porque Jesus disse-lhe: "Segue-me", mas,
antes, ele saiu e “Filipe achou Natanael, e disse-lhe: Havemos
(note o verbo na primeira pessoa do plural)
achado aquele de quem Moisés escreveu na
lei, e os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José. Disse-lhe
Natanael: Pode vir alguma coisa boa de Nazaré? Disse-lhe Filipe:
Vem, e vê. Jesus viu Natanael vir ter com ele, e disse dele: Eis
aqui um verdadeiro israelita, em quem não há dolo. Disse-lhe
Natanael: De onde me conheces tu? Jesus respondeu, e disse-lhe: Antes
que Filipe te chamasse, te vi eu, estando tu debaixo da figueira.
Natanael respondeu, e disse-lhe: Rabi, tu és o Filho de Deus; tu és
o Rei de Israel.” (João
1:45-49)
Sob o
verbete “Filipe, o Apóstolo” a enciclopédia Wikipédia, em
língua inglesa, escreve: Ele também estava entre aqueles que
rodeiam o Batista, quando este primeiro apontam para Jesus como o
Cordeiro de Deus; Todavia, não se encontra nas Escritura
nenhuma passagem que
corrobore com tal afirmação
mas, sim, com tudo indicando, que Jesus e Filipe só se encontraram, mesmo, depois que João Batista já se encontrava preso, e Jesus já
tinha retornado, de Betabara
para a Galileia, ido para Cafarnaum, e caminhado dali para Betsaida.
Recordando
o que explica o livro de Mateus: “Quando
Jesus ouviu que João tinha sido preso, voltou para a Galileia.
Saindo de Nazaré, foi viver em Cafarnaum, que ficava junto ao mar,
na região de Zebulom e Naftali, para cumprir o que fora dito pelo
profeta Isaías: "Terra de Zebulom e terra de Naftali, caminho
do mar, além do Jordão, Galileia dos gentios; (Mateus 4:12-15).
Com
efeito, apesar de ficarem bem próximas uma da outra (distantes pouco mais de 5 km, uma da outra), Cafarnaum (Capernaum, no mapa acima) se
encontra ainda dentro dos limites da Galileia, enquanto que, o vilarejo de
Betsaida (Bethsaida), não.
Betsaida está, não apenas para “além do Jordão”,
como, também, está para além da fronteira daquilo que era, na época, a Galileia oficial, ou seja,
já dentro de uma outra região que era denominada, no tempo de Jesus,
como Traconites (Trachonitis), conforme anunciado em Lucas 3:1:
“E
no ano quinze do império de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos
presidente da Judeia, e Herodes tetrarca da Galileia, e seu irmão
Filipe tetrarca da Itureia e da província de Traconites, e Lisânias
tetrarca de Abilene” (Lucas 3:1).
De modo que, sair da Betsaida
para ir a Galileia, podia significar tão pouco quanto andar uns
poucos quilômetros a pé até Cafarnaum, como ainda, poderia significar atravessar de barco, na orientação diagonal de nordeste para sudoeste, o Mar
da Galileia, indo
para qualquer
localidade portuária dali, como Tiberíades, por exemplo, ou mesmo para a pequena
Magdala (a cidadezinha em que vivia a aquela que viria a ser conhecida como Maria Madalena).
Mas o
fato é que Jesus não atravessou para ali, apenas para encontrar
Filipe, e para que este encontrasse a Natanael. Havia um motivo extra para
Jesus ter ido ali, do outro lado do Mar da Galileia, e quem nos conta a respeito é
João:
“E, ao terceiro dia (após o
encontro com Filipe e Natanael), fizeram-se umas bodas em Caná da
Galileia; e estava ali a mãe de Jesus. E foi também convidado Jesus
e os seus discípulos para as bodas.” (João 2:1-2). Decerto, agora, por ocasião do evento conhecido como "as bodas de Caná", sim, Jesus, efetivamente, tinha discípulos, que além de receberem disciplina
e instrução dele, também passavam a acompanhá-lo, continuamente,
além de se tornarem, também, parte integrante dos futuros Apóstolos.
Em se
tratando de futuros Apóstolos, na sequência em que cada um deles foi conduzido por Deus para serem apresentados a Jesus, Filipe e
Natanael (que viria a ser chamado Bartolomeu) eram, respectivamente, o quinto e
o sexto mas, como discípulos, no sentido mais estrito da palavra, que inclui o atributo de ser companheiro e acompanhante, desses que passam a acompanhar o mestre por onde ele tem que ir, e não apenas um distante seguidor dos ideais, eles foram, de
fato, os dois primeiros.
Filipe e Natanael tiveram, ainda, a feliz oportunidade de
presenciar, também, aquele que é considerado o primeiro milagre narrado, operado por Jesus: a transformação da água em vinho durante a festividade das bodas na cidade de Caná. Aparentemente, para Natanael, tal milagre foi algo menos impactante do que, tão simplesmente, a revelação sobre Jesus tê-lo visto debaixo de uma figueira, que foi o motivo dele ter crido, de imediato.
De certo, "estar sob a figueira" era algo que representava um momento crítico e decisivo na vida de Natanael. Após essa revelação de Jesus, Natanael faz a sua adesão ao mestre com a seguinte profissão de fé: "Rabi, tu és o filho de Deus, tu és o Rei de Israel".
Ao contrário do que ocorreu com André e João, que mesmo depois de passar um dia inteiro com Jesus, por um tempo, ainda voltaram às suas atividades de pescadores, por sua vez, as vidas de Filipe e Natanael parecem não ter mais retornado a "normalidade" a partir daquele encontro deles com Jesus.
Alguns dias depois
disso, Jesus se reencontraria, mais uma vez, com André e João e, pela segunda vez, também com os irmãos deles,
Pedro e Tiago. Até este evento, mesmo que todos eles já estivessem reservados, na mente de Deus, para serem
futuros Apóstolos do Senhor Jesus Cristo, nenhum deles ainda o seguia, acompanhando Jesus naquelas suas primeiras andanças e, portanto, eles ainda não eram "discípulos companheiros".
Quando estiveram em Betabara, e lá passaram um dia com Jesus, por que eles creram na palavra dada por João Batista, João e André acreditaram que Jesus fosse o Messias. Contudo, eles não tiveram desprendimento pessoal imediato para segui-lo, mas, em vez disso, lembrando-se do trabalho cotidiano que eles haviam deixado para trás (apenas temporariamente), eles retornaram de Betabara para Betsaida, para mais uma vez, voltarem a ser pescadores de peixes galileus na empresa de pesca familiar deles.
Assim, Jesus reencontra nas praias de Betsaida, André e João, que já o haviam seguido e acompanhado, espontaneamente, antes, lá em Betabara, porém, apenas por um único dia, ainda como trabalhadores da pesca, mas, agora, para, enfim, poder chamá-los de modo definitivo. Todavia, o chamado não viria apenas para eles dois (que já haviam sido aceitos, em antecipação, desde Betabara), mas, também, viria para Tiago (irmão de João) e, principalmente, para Simão (irmão de André, e que viria a ser chamado Pedro). Também é fato que existia, de antemão a liderança natural que ele, Pedro, já exercia sobre os demais, mas, o que de verdade se pode dizer sobre as razões da escolha de Deus?
É notório que André e Pedro tinham, entre si, temperamentos bem diferentes, mas, mesmo sob diversidade de personalidades, eles se darem muito bem. Ambos influenciavam, de maneira positiva, um ao outro, mas, a liderança em grandes decisões. parece que André deixava para Pedro, sem nunca ter dado mostra alguma de ter inveja da capacidade de liderança de seu irmão mais novo. É raro ver-se um homem mais velho do tipo de André, exercendo uma influência tão profunda sobre um irmão mais jovem e mais talentoso, em um clima de profundo respeito.
Apesar de Simão (agora já chamado Cefas, ao menos pelo Senhor Jesus) ser um melhor líder e um melhor gestor, tudo leva a crer que André fosse homem bem mais "espiritualizado" do que ele, pois, foi ele quem (junto com João) decidiu largar (ao menos temporariamente) as suas obrigações seculares que os prendiam à empresa de pesca em Betsaida, para sair dali, e enfrentar uma jornada de cerca de 120 km, até Betabara, indo atrás da tão propagada pregação e batismo de João Batista (fazendo isso, eu creio, até ao contragosto de Simão), pois André tinha um coração mais propenso a "aventura espiritual", daquela de andar atrás do tesouro mais do que especial, que só se conhece e se prova pela fé, que é o reino de Deus.
Mais tarde, o próprio Jesus explicaria sobre alguns dentre os requisitos importantes que se aplicam para o voluntariado da liderança e do apostolado cristão: "o reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo." (Mateus 13:44). “Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus.” (Lucas 9:62)
Em sua narrativa evangélica, João as vezes se omite de quantificar a passagem de tempo entre um evento e outro, porém, quando ele o
faz, o faz de maneira
certa e precisa. Pedro poderia estar ali,
do outro lado do mar da Galileia, com
Jesus, Filipe, e Natanael, se pondo, também, a caminho da festiva bodas em
Caná. Mas,
decerto
ele não estava, pois ele ainda não cria,
como deveria e viria, posteriormente, a crer. Simplesmente ele não estava pronto.
Mesmo tendo
recebido
um nome novo, ele (Pedro) não se pôs, de imediato, a seguir
Jesus. Já, André e João poderiam
até estar ali, pois eles já criam e, eu creio, eles até já desejavam seguir Jesus. Mas, infelizmente André e João também não estiveram presentes às bodas da Caná, pois, fato é que, até ali, mesmo eles já o reconhecendo como o Messias (por acreditarem na palavra de João Batista), eles não haviam se tornado, ainda, companheiros permanentes de Jesus. Eles também não estavam prontos.
"Depois
disto (das bodas de Caná) desceu
a Cafarnaum, ele (Jesus), e sua mãe (Maria), e seus irmãos, e seus discípulos (Felipe e Natanael); e
ficaram ali não muitos dias" (João 2:12). "Não muitos dias", porém, tempo o bastante
para Jesus fazer algumas das suas caminhadas a beira do mar da
Galileia, principalmente naquela
curta distância (com duração de cerca de uns 50 minutos a pé) entre Cafarnaum e Betsaida,
e agora não mais necessariamente sozinho, mas já podendo, eventualmente, ser acompanhado
de Felipe e Natanael.
“Andando
à beira do mar da Galileia, Jesus viu dois irmãos (aos quais já conhecia): Simão, chamado
Pedro, e seu irmão André. Eles estavam lançando redes ao mar, pois
(ainda) eram pescadores. E disse Jesus: "Sigam-me, e eu os farei
pescadores de homens". No mesmo instante eles deixaram as suas
redes e o seguiram. (Mateus 4:18-20).”
Eu
fico, aqui, com meus botões, imaginando a cara do André nessa hora, que, eu creio, queria poder
seguir a Jesus, mas que
sentia não ter o poder deixar o seu irmão e os seu trabalho na empresa de pesca.
Quão alegre ele,
decerto, ficou
com aquilo.
Mas os pés do Senhor Jesus não param e “Indo adiante, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de
Zebedeu, e João, seu irmão. Eles estavam num barco com seu pai,
Zebedeu, preparando as suas redes. Jesus os chamou, e eles, deixando
imediatamente o barco e seu pai, o seguiram. (Mateus 4:21-22)
A
narrativa dos reencontros e dos chamados feitos para Pedro, André,
Tiago e João para o seguir, é confirmada no livro de Marcos, capítulo 1,
versos de 16 a 20, porém, Marcos
(que não foi contado entre os doze Apóstolo, mas que, porém, pode ter conhecido Jesus como homem, pessoalmente, e participado, inclusive, do grupo dos setenta discípulos pregadores) prossegue dando ainda mais detalhes imediatos:
“Eles foram para Cafarnaum
e, assim que chegou o sábado, Jesus entrou na sinagoga e começou a
ensinar. Todos ficavam maravilhados com o seu ensino, porque lhes
ensinava como alguém que tem autoridade e não como os mestres da
lei.” (Marcos 1:21-22)
Marcos
prossegue narrando milagres realizados em
Cafarnaum, naquele mesmo dia de sábado, como a cura de um possesso,
a cura da sogra de Pedro, e a repercussão disso, no final de um
mesmo dia:
“Ao anoitecer, depois do pôr do sol, o povo levou a
Jesus todos os doentes e os endemoninhados. Toda a cidade se reuniu à
porta da casa, e Jesus curou muitos que sofriam de várias doenças.
Também expulsou muitos demônios; não permitia, porém, que estes
falassem, porque sabiam quem ele era.” (Marcos 1:32-34)
Não há dúvidas de que a "porta da casa" mencionada neste verso, refere-se à porta da mesma casa aonde Jesus havia chegado havia poucas horas antes, ou seja "foram à casa de Simão e de André" (Marcos 1:29), aonde Jesus curou a sogra de Simão. É sabido que Simão (Pedro) detinha essa residência ali em Cafarnaum, que era o seu "endereço residencial", muito embora o "endereço comercial" da empresa de pesca dele e de André, em sociedade com Zebedeu e seus filhos, era mesmo em Betsaida.
Nada leva a crer que, ao se transferir para Cafarnaum, Jesus foi se abrigar na casa de Pedro. Por ocasião da chegada de Jesus àquela cidade, ainda não havia uma intimidade de relacionamento entre ele e Simão que justificasse supor isso. O relacionamento entre Jesus e Simão passa a ser desenvolvido, justamente, a partir da chegada de Jesus a Cafarnaum. Além do mais, Jesus não chegou ali só: havia, com ele, sua mãe e seus irmãos, o que significava despesas de estadia e alimentação.
Todavia, também me parece claro que não houve (como muitos supõem) uma mudança de toda a família de Jesus, de Nazaré para Cafarnaum. Repare que João 2:12 finaliza, salientando: "e ficaram ali não muitos dias". Muito provavelmente nem Jesus, nem seus irmãos (que também tinham, em conjunto, uma empresa, só que de carpintaria em Nazaré) precisariam adquirir a posse definitiva sobre um imóvel em Cafarnaum, apenas, para utiliza-lo por uma curta temporada.
Todavia, deveras, Jesus havia conseguido uma habitação (uma casa) em Cafarnaum para a sua permanência ali. Isso me parece até algo premente, pois, não apenas seus irmãos (e eventualmente seus discípulos precisavam ser abrigados), mas, principalmente, Maria, sua mãe. É evidente que Jesus não teria tirado sua mãe de Nazaré para leva-la a Cafarnaum (ambas cidades da Galileia), para que ela habitasse sob condições precárias.
Todavia, nada justifica a alegação que alguns desatinados pregadores da "Teologia da Prosperidade" atual fazem, de que Jesus havia adquirido ali em Cafarnaum uma "Grande Casa de Praia", com a alegada capacidade de hospedar, ao menos, 21 pessoas. Para chegar ao número 21 nas contas das acomodações, eles consideram (de modo absolutamente errôneo, mas conveniente ao objetivo materialista de tal alegação) como acomodados ali, todos os 12 discípulos, mais todos os 7 irmãos de Jesus, e mais o próprio Jesus e sua mãe.
Repare que João 2:12 fala, apenas, em "seus irmãos", sem especificar se o número desses irmãos que, efetivamente, foram com ele e com sua mãe para Cafarnaum: se porventura fosse mesmo de sete, ou de seriam de apenas dois (o que já justificaria o uso do plural). Quem ficou tomando conta da carpintaria em Nazaré?
Além disso, decerto o número de discípulos que, a princípio, poderiam (mas não necessitariam) ser acomodados por Jesus em Cafarnaum era de apenas dois: Filipe e Natanael, os quais, inclusive, tal qual André, João, Pedro e Tiago (sendo que estes quatro ainda nem seguiam a Jesus por ocasião do dia da mudança dele para Cafarnaum), já eram, também, ambos originais de Betsaida, e decerto não deveriam viver como desabrigados, sendo, os mesmos, decerto proprietários de casas, ali.
Alguns meses depois desta curta temporada inicial do ministério do Senhor Jesus em Cafarnaum, conforme relatado em Marcos 6, versos de 1 a 5 (e, também, Mateus 13:54-58), podemos constatar que ele acaba por retornar, mais uma vez, para a cidade de Nazaré: "chegou à sua pátria, e os seus discípulos o seguiram." (Marcos 6:1). Após ensinar na sinagoga dali, apesar do povo local se admirar de sua sabedoria. eles não creram nele e diziam:
"Não é este o carpinteiro, filho de Maria, e irmão de Tiago, e de José, e de Judas e de Simão? e não estão aqui conosco suas irmãs? E escandalizavam-se nele." (Marcos 6:3). Este verso apresenta uma forte evidência de que a primeira ida de Jesus a Cafarnaum, mesmo que acompanhado de sua mãe e (alguns de) seus irmãos, foi realizada como sendo algo apenas transitório, e não se tratou de uma mudança definitiva da família.
Apesar de eu não encontrar uma prova cabal nas narrativas dos evangelistas, eu entendo, sinceramente, que após Jesus sair de Cafarnaum, iniciando a expansão da sua vida pública, tanto Maria, sua mãe, quanto seus irmãos que estiveram ali em Cafarnaum, também deixaram aquela cidade e regressaram a Nazaré, e a família retomou as suas atividades normais de carpintaria naquela cidade.
De modo que, toda essa conversa sobre Jesus ser possuidor de uma "grande casa de praia em Cafarnaum" é uma conversa originada a partir de gente tola, e destinada a gente ainda mais tola, tão somente com o intuito inimigo de Deus, de atiçar o coração de crentes incautos na direção da paixão pelas riquezas materiais e amor ao dinheiro (Ora, se o Senhor Jesus teve uma grande casa de praia em Cafarnaum, por que eu não poderia desejar ter uma, hoje, também?).
Mas, se não era uma casa própria (de Jesus ou de sua família) aonde Maria e os irmãos de Jesus estiveram acomodados naquela temporada em Cafarnaum e, também não era na casa de Pedro (ou de sua sogra), onde foi então que eles todos (Jesus, sua mãe e seus irmãos) ficaram acomodados? Muito provavelmente, ou na casa de Filipe, ou então, na casa de Natanael. Assim como Pedro e André tinham o seu endereço comercial em Betsaida, porém com endereço residencial em Cafarnaum, muito provavelmente o mesmo deveria ocorrer com Felipe e com Natanael.
Ao que tudo indica, muito pouca gente deveria viver em Betsaida, porquanto ela era uma localidade propicia apenas para o desenvolvimento do trabalho pesqueiro e do comércio específico que gira em torno deste negócio, enquanto Cafarnaum era uma cidade mais adequada à habitação familiar.
Todavia, para compreender com mais clareza como tudo se passou, é preciso voltarmos, mais uma vez, para Mateus 4:12-13, que diz: "Jesus, porém, ouvindo que João estava preso, voltou para a Galiléia; E, deixando Nazaré, foi habitar em Cafarnaum, cidade marítima, nos confins de Zebulom e Naftali;".
Quando João Batista foi preso, Jesus não estava na Galileia e, sim, ainda no sul, muito provavelmente nem mesmo na Judeia, mas, ainda além do Jordão, nas imediações de Betabara. Todavia ele irá voltar para a Galileia, e ele irá passar por Nazaré, mas ele não permanecerá em Nazaré: seu objetivo final, então, já era o de prosseguir viagem até chegar a Cafarnaum. Mas é evidente que ao passar por Nazaré, Jesus não deixará de aproveitar uma curta estada junto de sua família, afinal, foram várias e várias semanas em que ele esteve ausente, viajando, sendo batizado por João, fazendo o jejum de quarenta dias..
A futura ida da família a Caná, para comparecer àquela famosa celebração do casamento que ali aconteceu, é algo que foi conversado e planejado durante esta rápida estada de Jesus em Nazaré, e já ficou tudo devidamente acertado: Jesus iria comparecer às bodas de Caná, porém ele não irá para lá junto com seus familiares, mas, como ele estava ali em Nazaré apenas de passagem, devendo prosseguir viagem até Cafarnaum (sozinho), depois ele irá até Caná, a partir de Cafarnaum.
Jesus sai de Nazaré e prossegue viagem até Cafarnaum, aonde ele chega sozinho. Sim, na primeira ida a Cafarnaum após Jesus ser batizado, ele chega ali desacompanhado e sem acomodações definidas. Ora, para quem havia passado, bem recentemente, muitas noites dormindo em cavernas das imediações de Betabara e, ainda por cima, havia passado por uma prova de quarenta dias no deserto, que dificuldade haveria em acampar em uma barraca, ou mesmo dormir ao relento, numa praça ou num canto qualquer de Cafarnaum?
Somente após algumas várias caminhadas entre Cafarnaum e Betsaida, e vice-versa, de encontro e reencontro com André, João, Tiago e Simão (quem ele mudou o nome para Pedro), de provavelmente ter visto Natanael debaixo da tal figueira, e de ter ido ao casamento em Caná, acompanhado de Filipe e Natanael, onde ele reencontrou, também, com seus familiares, é que Jesus iria voltar para Cafarnaum, agora já acompanhado, se hospedando em uma casa que era de Natanael ou de Felipe, para permanecer, apenas, uma curta temporada.
Marcos
narra, ainda, que, ao final do mesmo dia em que Jesus pregou na sinagoga, curou a sogra de Pedro e curou muitos outros doentes, ele ainda encontrou forças para, já pela madrugada do domingo, sair e procurar um lugar afastado para orar. “Simão e
seus companheiros foram procurá-lo e, ao encontrá-lo, disseram:
"Todos estão te procurando!" Jesus respondeu: "Vamos
para outro lugar, para os povoados vizinhos, para que também lá eu
pregue. Foi para isso que eu vim". Então ele percorreu toda a
Galileia, pregando nas sinagogas e expulsando os demônios. (Marcos
1:36-39)
Essa
última passagem de Marcos pode ser comprovada por Mateus, quando
explica: “Jesus foi por toda a Galileia,
ensinando nas sinagogas deles, pregando as boas novas do Reino e
curando todas as enfermidades e doenças entre o povo.” (Mateus
4:21-23).
Bem, se Jesus houvesse adquirido uma grande casa de paria em Cafarnaum, então eu creio que ele não conseguiu ser um cara tão "esperto" quanto os crentes modernos, pois, ele não "prosperou" em tirar dela o devido proveito (a moda do "mundo crente materialista moderno"): Definitivamente, Jesus não soube permanecer como os fariseus modernos: atingindo um sucesso mundano, cobrando caro para pregar, sendo algo pesado para o povo carregar e gozando a vida em Cafarnaum.
Antes, ele, por fim, amaldiçoou aquela cidade, que ele verificou ter um povo tão recalcitrante contra a verdade: "E tu, Cafarnaum, que te ergues até ao céu, serás abatida até ao inferno; porque, se em Sodoma tivessem sido feitos os prodígios que em ti se operaram, teria ela permanecido até hoje. Eu vos digo, porém, que haverá menos rigor para os de Sodoma, no dia do juízo, do que para ti." (Mateus 11:23,24)
Nem seria necessário comentar que, ter a sua existência na Terra, considerada como algo ainda pior do que a existência de Sodoma, é a ignomínia das ignomínias para qualquer cidade. Porém, voltando ao nosso estudo de ordenamento histórico, a riqueza dos detalhes de
narração, sobre esta fase inicial da vida pública de Jesus, fica mesmo por conta da
sequência do livro de Marcos (pelo final do capítulo 1, e por todo o capitulo 2 e 3), enquanto
Mateus, deixa tudo apenas sucinto, narrando:
“Notícias sobre ele se espalharam por
toda a Síria, e o povo lhe trouxe todos os que estavam padecendo
vários males e tormentos: endemoninhados, epiléticos e paralíticos;
e ele os curou. Grandes multidões o seguiam, vindas da Galileia,
Decápolis, Jerusalém, Judeia e da região do outro lado do Jordão.”
(Mateus 4:24-25)
Muitos detalhes sobre estes mesmos primeiros dias de discipulado, de pregações e de sinais milagrosos, faltam no livro de Lucas e, apesar dele não perder a sequência cronológica certa, a partir do fim dos quarenta dias de provação após o batismo em Betabara, o narrador "salta no tempo", direto para um evento bem posterior, em que Jesus pregou sobre livro do profeta Isaías
na sinagoga de Nazaré, cidade onde ele fora criado (mas já não vivia mais ali).
Mas fica claro que este foi um evento bem posterior, quando o próprio Jesus menciona: "... Sem dúvida me direis este provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo; faze também aqui na tua pátria tudo que ouvimos ter sido feito em Cafarnaum." (Lucas 4:23), deixando claro, assim, que muitos eventos famosos de sinais e de curas da parte de Jesus já haviam ocorrido, antes daquele dia, em muitos locais, e não apenas em Cafarnaum.
Porém, em Nazaré, Jesus estava impedido de fazer milagres por causa da mera falta de fé do povo, e Jesus chegou a ser expulso dali e voltou para Cafarnaum: "... Em verdade vos digo que nenhum profeta é bem recebido na sua pátria." (Lucas 4:24)
Mas a narrativa de Lucas, que vem a seguir, é importante para que nós possamos perceber o quão difícil foi, de fato, a plena conversão de Pedro para a grandeza daquilo que era a proposta de Jesus (de deus) para ele: ser, não apenas SALVO, mas, também o líder dentre os "pescadores de homens", em uma ação que, futuramente, iria levar tanto Pedro, quanto o Evangelho, para muito além das fronteiras que ele, homem rústico, conhecia. Então Jesus realiza, ainda, mais um sinal para ele, Pedro, testemunhar, que resultou numa pesca abundante de peixes milagrosa. (Lucas 5:2-10).
"E vendo isto Simão Pedro, prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor, ausenta-te de mim, que sou um homem pecador.
Pois que o espanto se apoderara dele, e de todos os que com ele estavam, por causa da pesca de peixe que haviam feito. E, de igual modo, também de Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram companheiros de Simão. E disse Jesus a Simão: Não temas; de agora em diante serás pescador de homens. E, levando os barcos para terra, deixaram tudo, e o seguiram." (Lucas 5:8-11).
Se esse evento marca o exato momento da selagem de Pedro para ser futuro Apóstolo, nem de longe ele significou ser o momento em que Pedro foi salvo (Pedro ficou apenas espantado). Lembre-se, por exemplo, que Judas Iscariotes também deixou tudo para se tornar discípulo de Jesus Cristo, e recebeu poder igual aos demais doze (Mateus 10:1-4). Assim, o que Pedro fez, então, não lhe transmitia salvação, ainda. Esse é o "mistério" da graça da salvação (que não tem mistério algum):
“Se, com a tua boca, confessares ao Senhor Jesus e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo” (Romanos 10:9). Desse modo, a comprovação do "dia da salvação' para Pedro chegaria, tempos depois, mediante o seguinte diálogo: "E vós, quem dizeis que eu sou? E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo." (Mateus 16:15,16) ... Não tem coisa mais singela que a graça da salvação.
Sem
dúvida me direis este provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo; faze
também aqui na tua pátria tudo que ouvimos ter sido feito em Cafarnaum.
Lucas 4:23
Sem
dúvida me direis este provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo; faze
também aqui na tua pátria tudo que ouvimos ter sido feito em Cafarnaum.
Lucas 4:23
Enfim,
muitas grandes coisas e inúmeras curas fez Jesus pela Galileia, e tornou-se, assim, muito
famoso na Judeia toda, antes de podermos voltar a sequência da
narrativa de João, que diz: “E estava próxima a páscoa dos
judeus, e Jesus subiu a Jerusalém.” (João 2:13), mas não, sem
antes, Jesus fazer algo muito importante: a devida eleição formal dos doze Apóstolos.
E
aconteceu que naqueles dias subiu ao monte a orar, e passou a noite
em oração a Deus. E, quando já era dia, chamou a si os seus
discípulos, e escolheu doze deles, a quem também deu o nome de
apóstolos (pois, até ali nenhum deles havia sido, ainda, confirmado
com o apóstolo): Simão, ao qual também chamou Pedro, e André, seu
irmão; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; Mateus e Tomé; Tiago,
filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelote; E Judas, irmão de Tiago, e
Judas Iscariotes, que foi o traidor. (Lucas 6:12-16).
Agora,
sim, o apostolado estava formalmente instituído mas, o treinamento daqueles doze
homens, que agora passavam a ter seus
destinos selados, ainda precisaria se
intensificar ainda mais, antes deles
receberem ordem com instruções, para sair e pregar as boas novas, primeiro às ovelhas perdidas de Israel (Mateus 10:6) e, depois ao
mundo todo (Marcos 16:15).
Somente depois de vários meses é que o Senhor Jesus teria outra oportunidade de retornar a Betabara, para onde ele, de fato, se refugiou, por ocasião de uma perseguição (uma tentativa de apedrejamento que ele sofreu, em Jerusalém):
"Procuravam, pois, prendê-lo outra vez, mas ele escapou-se de suas mãos, E retirou-se outra vez para além do Jordão, para o lugar onde João tinha primeiramente batizado; e ali ficou. E muitos iam ter com ele, e diziam: Na verdade João não fez sinal algum, mas tudo quanto João disse deste era verdade. E muitos ali creram nele." (João 10:39-42)