sexta-feira, 10 de outubro de 2014

O Sinédrio


O Sinédrio era um conselho de juízes, que exercia a função de Corte Suprema da lei judaica. Esta entidade teve como mais remota origem, os desdobramentos da lamentação de Moisés à Jeová Deus, após Moisés ouvir o murmúrio dos israelitas pela falta de ter carne por alimento, no deserto, enquanto Moisés, por sua vez, considerou a carga pedida por Deus, para cuidar sozinho do povo, como muito grande, dizendo que ele, sozinho, não poderia suportar. (Números 11).

"E o Senhor disse a Moisés: "Reúna setenta autoridades de Israel, que você sabe que são líderes e supervisores entre o povo. Leve-os à Tenda do Encontro, para que estejam ali com você.  Eu descerei e falarei com você; e tirarei do Espírito que está sobre você e o porei sobre eles. Eles o ajudarão na árdua responsabilidade de conduzir o povo, de modo que você não tenha que assumir tudo sozinho." (Números 11:16,17)

Com isso, Deus permitiu a divisão da carga de Moisés com outros setenta anciãos, que foram ungidos por Espírito Santo, para cuidar do povo de Israel. Com isso Deus aprovou a criação de um conselho de anciãos do povo e seus oficiais, para cuidar do povo israelita, mesmo que, quando o Espírito repousou sobre eles, eles profetizaram, mas depois nunca mais. (Números 11:25).

Em verdade, o termo “setenta anciãos de Israel” já havia surgido, antes, quando o povo ainda se encontrava próximo ao Sinal, por que “ali se acampou em frente ao monte” (Êxodo 19:2), e após Jeová ter discorrido a Moisés sobre toda a Lei que era necessária àquele povo, setenta dos anciãos de Israel foram autorizados a subir (por apenas uma parte do percurso) e adorar de longe (Êxodo 24:1), no dia seguinte após Moisés escrever todas as palavras (da Lei) do Senhor (Êxodo 24:4).

Quando os filhos de Israel, segundo a ordem de marcha, partiram do deserto de Sinai; e a nuvem parou no deserto de Parã (Números 10:12), aquele povo já não era mais o mesmo. Muito embora a maioria deles não percebesse, ele estava transformado, fortalecido, organizado e cheio de moral. Já não se falava mais em temores, mas falava-se em ordem de exércitos, segundo as tribos. Sim, eles pareciam prontos para avançar, mesmo por um caminho por onde muitos perigos lhes aguardasse. 

Todavia, isso não bastou para evitar que, depois de um certo tempo, novamente queixava-se o povo, falando o que era mal aos ouvidos do Senhor Deus (Números 11:1). Mesmo castigados, o vulgo, que estava no meio deles, veio a ter grande desejo; pelo que os filhos de Israel tornaram a chorar, e disseram: Quem nos dará carne a comer? (Números 11:4). E irritaram, ainda mais a Deus, dizendo: coisa nenhuma há senão este maná diante dos nossos olhos. (Números 11:6).

É interessante notar que, já não era a primeira vez que o povo murmurava por causa de alimento e, desde antes do povo ter chegado ao Sinai, Jeová já vinha cuidado com zelo das necessidades deles: eles tinham o maná diariamente (exceto no sétimo dia, compensado com o dobro, de conservação especial, no sexto dia, ver Êxodo 16). Codornizes como alimento, o povo recebia frequentemente (creio que diariamente, pela tarde (Êxodo 16:12)), na medida da necessidade deles, coisa muito bem conhecida pelo Senhor. Mas o que muitos do povo queria, na verdade (como quer, até os dias de hoje), era sempre mais e mais, mesmo quando o "mais" não lhe fosse, de fato, nada conveniente.

Deste modo, pela "saudades" que o povo expressava sentir pela vida que haviam deixado para trás, no Egito, de onde o próprio Senhor, com grande poder, os havia tirado, mesmo Jeová tendo aprovado a criação daquele conselho de anciãos do povo e seus oficiais (que, muito mais tarde resultará na tradição de criação do sinédrio), para cuidar daquele murmurante povo israelita (que não são diferentes dos humanos de toda Terra de hoje em dia), tal instituição, também não bastou, segundo a Justiça de Deus, para livrar aquele povo de (mais) castigo.

Então soprou um vento do Senhor e trouxe codornizes do mar, e as espalhou pelo arraial, e o povo se levantou todo aquele dia e toda aquela noite, e todo o dia seguinte, e colheram as codornizes; o que menos tinha, colhera 10 gômeres (cerca de 44kg), e as estenderam para si ao redor do arraial. (No entanto,) quando a carne estava entre os seus dentes, antes que fosse mastigada, se acendeu a ira do Senhor contra o povo, e feriu o Senhor o povo com uma praga terrível. (Números 11:31-33).

Aqueles setenta homens, que haviam sido ungidos com Espírito, para ajudar na administração do povo, não foram o bastante para impedir que o povo continuasse errando, pecando contra Deus, de modo que, exceto Calebe, filho de Jefoné o quenezeu, e Josué, filho de Num (se é que estes dois homens deveras estiveram inscritos entre aqueles primeiros setenta), porquanto perseveraram em seguir ao Senhor (Números 32:12), entrariam na Terra Prometida, e, assim se acendeu a ira do Senhor contra Israel, e fê-los andar errantes pelo deserto quarenta anos até que se consumiu toda aquela geração, que fizera mal aos olhos do Senhor. (Números 32:13).

Apesar de que o numeral de contagem setenta, apareça em diversos momentos nos seis primeiros livros da Bíblia, tal numeral só voltaria a aparecer como contagem de pessoas das tribos de Israel, já no tempo de Juízes, ao fazer referência a casa de Gideão (também chamado Jerubaal, querendo dizer, Baal contenda contra ele, pois derrubou o seu altar. (Juízes 6:32).), após a vitória de Jeová usando ele contra os dominadores midianitas: E teve Gideão setenta filhos, que procederam dele, porque tinha muitas mulheres. (Juízes 8:30).

Antes de Gideão e de os trezentos, os filhos de Israel fizeram o que era mau aos olhos do Senhor Deus; e Ele os deu nas mãos dos midianitas por sete anos. (Juízes 6:1).

E logo em seguida, o mesmo numeral aparece mais uma vez, no início de Juízes 9, mencionado por um outro filho que Gideão teve, Abimeleque, ao falar contra os seus setenta irmãos, porém com Gideão estando já falecido, após ele mesmo ter tropeçado em servir ao Senhor, e com boa parte do povo de israel, ingrato a Jeová, o seu Deus libertador, tendo retornado a idolatria que lhes fora ensinada pelos seus dominadores estrangeiros, pondo imagens de baal-berite por deus.(Juízes 8:33).

De parte dos despojos dos midianitas vencidos, Gideão havia feito um éfode, e colocou-o na sua cidade, em Ofra; e todo o Israel se prostituiu (idolatrando) ali após ele; e (isso) foi por tropeço a Gideão e à sua casa (Juízes 8:27), até que aquele irmão enjeitado, porquanto era filho ilegítimo, nascido fora da casa de Gideão, foi à casa de seu (falecido) pai, a Ofra, e matou a seus irmãos, os filhos de Jerubaal (Gideão), setenta homens, sobre uma só pedra. Mas Jotão, filho menor de Jerubaal, ficou, porquanto se tinha escondido. (Juízes 9:5). Todavia, por fim, Deus fez tornar sobre Abimeleque o mal que tinha feito a seu pai, matando a seus setenta irmãos. (Juízes 9:56). 

Ou seja, a seus sessenta e nove irmãos, e mais a ele próprio, pois havia pedido ao seu servo: mata-me; para que não se diga de mim: uma mulher o matou. (Juízes 9:54).

Muito tempo depois, já tendo passado o reinado de Davi, e depois dele, o de seu Filho Salomão e, tendo após este, o reino sendo dividido, numa situação que já perdurava por várias gerações, também Acabe (rei do reino do norte, que se vendeu para fazer o que é mau aos olhos de Jeová, instigando-o Jezabel, sua esposa (1 Reis 21:25)) tinha setenta filhos em Samaria. Jeú (vaso de ira do Verdadeiro Deus) escreveu cartas, e as enviou a Samaria, aos chefes de Jizreel, aos anciãos e aos aios dos filhos de Acabe, dizendo:

Logo, em chegando a vós esta carta, pois estão convosco os filhos de vosso senhor, como também os carros, os cavalos, a cidade fortalecida e as armas. Olhai pelo melhor e mais reto dos filhos de vosso senhor, o qual ponde sobre o trono de seu pai, e pelejai pela casa de vosso senhor. Porém eles temeram muitíssimo, e disseram: Eis que dois reis não puderam resistir a ele; como, pois, poderemos nós resistir-lhe? (2 Reis 10:4).

O numeral setenta continua aparecendo em várias outras passagens da narrativa bíblica, associada a outros numerais e, principalmente associada a exata contagem do tempo em anos, até que ela volta a aparecer, com maior precisão e com maior poder de significado, associada a "um grupamento de setenta anciãos", no livro de Ezequiel, no capítulo 8, quando aquele profeta, tomado pelo Espírito do Deus Vivo, recebe revelações proféticas que incluem a visão de toda a forma de répteis, e animais abomináveis, e de todos os ídolos da casa de Israel, (que) estavam pintados na parede em todo o redor. (Ezequiel 8:10).

E estavam em pé diante deles setenta homens dos anciãos da casa de Israel, e Jaazanias, filho de Safã, em pé, no meio deles, e cada um tinha na mão o seu incensário; e subia uma espessa nuvem de incenso. Então (o Espírito) me disse: Viste, filho do homem, o que os anciãos da casa de Israel fazem nas trevas, cada um nas suas câmaras pintadas de imagens? Pois dizem: O Senhor não nos vê; o Senhor abandonou a terra. (Ezequiel 8:11-12).

Aqui, o Espirito de Jeová Deus permitiu a Ezequiel compreender como e porque a presença de Deus, deixaria o seu templo, o Templo de Salomão em Jerusalém, por causa da corrupção da justiça e dos pecados de idolatria que os líderes do país estavam fazendo em segredo. Pensando que Deus não os via, líderes da nação adoravam abominações no templo. Deus pergunta a Ezequiel: "Você viu o que os anciãos da casa de Israel fazem nas trevas", para que Ezequiel fosse por testemunha do por quê a presença de Deus estava deixando o Templo.

Assim, bastante tempo posteriormente, quando a ideia de se ter um conselho baseado naquela antiga tradição mosaicas ressurgiu, tal conselho veio a adotar a formação de setenta mais um membros, tal como se supunha, por serem herdeiros das tarefas desempenhadas por aqueles setenta anciãos que ajudavam a Moisés na administração do povo, além do próprio Moisés.

Muito provavelmente, a ideia de Sinédrio desenvolveu-se integrando representantes da nobreza sacerdotal e das famílias mais notáveis, possivelmente durante o período persa, ou seja, a partir do século V – IV a.C.

Depois da morte de Alexandre Magno (também dito Alexandre, o grande), morto na Babilônia, em 323 a.C., os generais de Alexandre passaram a disputar entre si o domínio do império e, com isso, a parte oriental daquele império se dividiu entre os Ptolomaicos (partidários do também falecido general Ptolemeu), no Egito e os Selêucidas (partidários de Seleuco I Nicator, filho do general Antíoco e sobrinho de Ptolomeu), na Síria, e, assim, iniciou-se um período marcado pela helenização, que foi o confronto entre religião judaica tradicional e a cultura helenística, que ora havia se tornado uma mescla entre a cultura grega, com a cultura do oriente próximo.


A princípio, Jerusalém ficou sob influência ptolomaica, com relativa liberdade para o culto do judaísmo, porém, com a morte de Ptolemeu IV em 204 a.C., Antíoco III, que se tornara o mais notório dos governantes selêucidas após o próprio Seleuco I, entendeu que a situação mostrava-se propícia para nova campanha ocidental (Quinta Guerra Síria). Antíoco e Filipe V da Macedônia então fizeram um acordo para dividir as possessões ptolemaicas fora do Egito, e preparou uma invasão da Celessíria (que incluia a Judeia).

Antíoco arrasou depressa a região e, após um breve revez em Gaza, deu um esmagador golpe aos Ptolemeus perto da cabeça do rio Jordão, obtendo o importante porto de Sídon. Em 200 a.C., emissários romanos chegaram a Filipe e Antíoco exigindo que se abstivessem de prosseguir, e invadisse também o Egito, pois os romanos temiam, assim, sofrer alteração na sua importação de grãos do Egito, que era importante para a manutenção da população cidadã em Roma, mas a Judeia ficaria, doravante, sob o domínio dos selêucidas.

O termo “Sinédrio” não provém da língua hebraica, mas vem da junção de duas palavras gregas que são syn- (junto) e hedra (assento, lugar que se ocupa). O Sinédrio operava em Israel no período em que Jesus viveu como homem, propondo-se à missão de administrar a justiça, interpretando e aplicando a Torá (Pentateuco ou Lei de Moisés), tanto oral, como escrita, e segundo a orientação na tradição judaica.

Ao que tudo indica, não houve, precisamente, referências a efetiva existência de um conselho de anciãos com o nome de Sinédrio, até o tempo em que a dinastia dos reis selêucidas passaram a dominar sobre a judeia, tendo sido mencionado pela primeira vez, com o nome de Gerousia (conselho dos anciãos), no tempo do rei Antíoco III da Síria (223-187 a.C.).

Mais adiante, em 189 a.C. o reino selêucida perdeu a guerra contra Roma, o que teria como consequências a perda da Ásia Menor e o pagamento anual de 15 mil talentos aos Romanos. Numa tentativa de conseguir os fundos necessários, Heliodoro, um dos ministros do rei Seleuco IV, tentaria se apoderar, em vão, do tesouro do Segundo Templo de Jerusalém.

Tal como sucedeu em outras partes, a cultura e os modelos de vida gregos difundiram-se, também, pela Judeia. Alguns membros da elite judaica sentiam-se atraídos pela cultura grega e desejavam uma integração nesse mundo. Em 175 a.C., o sumo sacerdote Jasão obteve a autorização de Antíoco IV para transformar Jerusalém numa cidade helénica, o que incluíu a fundação de um ginásio, onde os jovens se exercitavam nus.

Estas medidas pareceram excessivas para muitos judeus, que mostraram o seu descontentamento. Em resposta a esta contestação, Antíoco IV tomou medidas que visavam impor de forma coerciva o helenismo. Os judeus passaram a ser obrigados a fazer sacrifícios em nome dos deuses pagãos e proibidos de praticar a circuncisão e de observar o Sabbat. Em dezembro de 168 a.C., o Templo de Jerusalém seria profanado com a instalação de uma estátua de Zeus.

Com a proibição em 167 a.C. da prática do judaísmo pelo decreto de Antíoco IV, e com a introdução do culto do Zeus Olímpico no Templo de Jerusalém, muitos judeus decidem resistir a esta assimilação, e acabaram sendo perseguidos e mortos. Conforme diz o apócrifo de 1 Macabeus, em seu capítulo 1:56-64:

"rasgavam e queimavam todos os livros da lei que achavam; em toda parte, todo aquele em poder do qual se achava um livro do testamento, ou todo aquele que mostrasse gosto pela lei, morreria por ordem do rei. Com esse poder que tinham, tratavam assim, cada mês, os judeus que eles encontravam nas cidades e, no dia vinte e cinco do mês, sacrificavam no altar, que sobressaía ao altar do templo. As mulheres, que levavam seus filhos a circuncidar, eram mortas conforme a ordem do rei, com os filhos suspensos aos seus pescoços. Massacravam-se também seus próximos e os que tinham feito a circuncisão. Numerosos foram os israelitas que tomaram a firme resolução de não comer nada que fosse impuro, e preferiram a morte antes que se manchar com alimentos; não quiseram violar a santa lei e foram trucidados. Caiu assim sobre Israel uma imensa cólera."

Judas Macabeu, filho de Matatias
Entre os judeus que permanecem fiéis à Torá, estava o sacerdote Matatias, chamado de Hasmoneu devido ao nome do patriarca de sua linhagem (Hasmon). Recusando-se a servir no templo profanado, Matatias se exila com sua família em sua propriedade em Modin. Matatias tem cinco filhos: João, Simão, Judas, Eleazar e Jônatas. Convocados para os sacrifícios pagãos, Matatias acaba matando o emissário real e um outro sacerdote que se propõe a oficiar os sacrifícios. Convoca então os judeus fiéis à Torá e foge com seus filhos para as montanhas, iniciando o movimento de resistência contra o domínio estrangeiro, destruindo altares, circuncidando meninos à força e recuperando a Torá das mãos dos gentios.

Todavia a história do livro de Macabeus é bastante clara em mostrar que foi apenas após uma aliança ocorrida entre os macabeus e os romanos, uma aliança defensiva contra os gregos com o senado romano, que permite expelir definitivamente os invasores helenistas o que põe um termo, ao movimento guerrilheiro liderado por Judas Macabeu, filho de Matatias, e de seus irmãos. Paralelamente a isso, ocorria que do ponto de vista militar, a Grécia havia entrado num declínio tal, que os romanos conquistaram todo o seu território, de 168 a.C. em diante, ainda que, em contrapartida, a arte, a cultura e a religião grega, é que houvessem, de fato, conquistado os romanos.

Na Judeia, sucedendo ao terceiro irmão Macabeu, Simão, encontramos o filho deste, João Hircano, que consolida o poder em suas mãos realizando ainda mais alianças com Roma e outros impérios de sua época. Esta dinastia, a dinastia da casa de Matatias, conhecida como "os asmoneus", passa governar a Judeia. Para Governar, João Hircano e seus sucessores, usurpam tanto o título de etnarca como o de sumo-sacerdote.

Os assideus, alarmados com as ambições dos asmoneus, e com o caráter secular que assume o seu reinado, rompem com eles. Segundo este grupo, ao se fazer sacerdote sem possuir o direito de família os asmoneus cometem uma terrível falta. Isto gerou a ruptura profunda entre os descendentes dos assideus (fariseus e essênios) e o partido ligado aos asmoneus (saduceus), os três partidos judaicos que, então, se formam.

Não obstante ao fim do domínio do helenismo grego sobre a Judeia, as diversas controvérsias entre os partido judaicos, agravado por dissidências internas, de continuo mantinham os judeus enfraquecidos como nação e o seu reino, agora sob o permanente olhar rapinante da águia romana. A questão a ser levantada é: O que o povo judeu poderia ter em haver com a politeísta idolatria estatal romana, que não fosse a mesma coisa que tivesse em haver com o panteísmo helênico dos gregos?

A Roma cuja fama empolgara os macabeus, levando-os a  fazer com ela um pacto, sem consultar a Deus (ver Capitulo 8 do livro apócrifo I Macabeus), agora era o que se tornava em ameaça maior. O fato é que, em 64 a.C., em meio a um novo acirramento das disputas internas dos judeus, o general romano Pompeu marchou com suas tropas, invadiu e conquistou Jerusalém, e fez do débil reino judeu um estado vassalo de Roma.

Sabe-se que o Sinédrio era composto de 71 membros, escolhidos entre varões eminentes, entre os quais estava o sumo sacerdote, pertencendo também ao grupo, pessoas de relações deste e que a sua existência com o nome de synedrion, pode ser comprovada desde o tempo do rei Hircano II ( 63 a 40 a.C.). Nesses tempos, era presididos pelo monarca asmoneu (da linhagem dos macabeus), que era, também, o sumo sacerdote.

Entre 57 a.C. e 55 a.C., Aulo Gabínio, procônsul romano para a Síria, tripartiu o antigo reino em Galileia, Samaria e Judeia, com cinco sinédrios (côrte de juízes). Herodes o Grande, no começo de seu reinado, mandou executar grande parte dos membros do grande sinédrio de Jerusalém (quarenta e cinco, segundo o historiador e apologista judaico-romano Flávio Josefo, em Antiquitates Judace 15.6), porque o conselho se atrevera a recordar-lhe os limites dentro dos quais deveria situar-se o seu poder. Herodes substituiu-os, durante seu reinado, por personagens submissos aos seus desejos e, depois, no tempo de Arquelau, teve limitada importância.

O termo Sinédrio é usado vinte e duas vezes no Novo Testamento e, muito embora aldeias e cidades espalhadas pela Judeia possuíssem os seus próprios conselhos de anciãos locais, formado por fazendeiros, comerciantes, escribas e sacerdotes locais, por ser Jerusalém reconhecida pelos romanos como a capital religiosa do Judaísmo, contendo ela, ainda, as instalações do templo histórico, o Sinédrio de Jerusalém era o conselho que exercia, oficialmente, a representação judiciária de todo povo judeu perante a autoridade romana, que era, em última instância, quem de fato governava sobre a Judeia do tempo de Jesus.

O Sinédrio era uma importante instância de poder na Judeia no tempo de Jesus, apesar do poder político estar nas mãos dos Romanos. Governos leais a Roma exerciam o poder outorgado por Roma. O Sinédrio em Jerusalém era composto por:
  • Grandes sacerdotes, normalmente os saduceus: um sumo sacerdote era o capitão do templo e um outro supervisionava os procedimentos e comandava o guarda do templo (Atos 5:24-26), ambos responsáveis pelo andamento do culto e, também, outros sacerdotes que serviam de tesoureiros, controlando os salários de trabalhadores e de sacerdotes de outras localidades, monitorando a arrecadação de fundos que vinha através do templo de Jerusalém;
  • Anciãos, constituídos de chefes patriarcais de grandes famílias, aristocracia financeira e distintos leigos religiosos da Judeia, ricos comerciantes e latifundiários. Homens como José Arimateia (Marcos 15:43), dividiam a visão conservadora dos saduceus e davam a assembléia à diversidade de um parlamento moderno;
  • Escribas que eram considerados os intelectuais da época. Podiam ler, escrever e interpretavam as leis judaicas. A maioria deles eram fariseus. Eles eram advogados profissionais treinados em teologia, direito e filosofia, e eram organizados em grêmios, normalmente seguindo a um rabinos ou professor célebre. Gamaliel, um escriba famoso do sinédrio, que aparece no Novo Testamento (Atos 5:34), foi o erudito que instruiu o Saulo de Tarso (futuro apóstolo Paulo)  (Atos 22:3), antes dele se tornar cristão.
Nós sabemos mais sobre alguns aspectos do Sinédrio nos dias de Jesus, do que podemos dizer sabemos sobre ele antes ou depois. Uma coisa que sabemos é a extensão de sua influência. Funcionava em Jerusalém, mas sua ação e decisões oficialmente se estendiam em toda a Judeia. Porém, mas, na prática, apesar do Sinédrio ter jurisdição restrita a Judeia, de fato, ele tinha influência para além da província da Galileia e até mesmo em Damasco (Atos 22:5).

O Senhor intervém e aborta a missão do funcionário do Sinédrio,
Saulo de Tarso, discípulo de Gamaliel, próximo a Damasco.
A narrativa bíblica nos mostra: E Saulo, respirando ainda ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote. E pediu-lhe cartas para Damasco, para as sinagogas, a fim de que, se encontrasse alguns deste Caminho (ou seja, cristãos), quer homens quer mulheres, os conduzisse presos a Jerusalém. (Atos 9:1-2). Anos mais tarde, com seu nome já mudado para Paulo, ele próprio contaria a narrativa disso em Atos 22. 

Na época dos governadores romanos, inclusive na de Pôncio Pilatos, o Sinédrio exerceu de novo suas funções judiciais em processos civis e penais, dentro do território da Judeia. O trabalho do conselho era basicamente o de julgar assuntos da lei judaica, quando surgiam discórdias, mas, era um tribunal com poderes criminais, políticos e religiosos, e, em todos os casos, sua decisão era final.

Eles julgavam acusações de blasfêmia como nos casos de Jesus (Mateus 26:65) e Estevão (Atos 6:12-14) e também participavam na justiça criminal. Nesse momento, suas relações com a administração romana eram tensas, e o relativo âmbito de autonomia que lhe foi outorgado estava em consonância com a política romana nos territórios conquistados.

O sumo sacerdote indicado pelos romanos, em exercício entre 18 e 36 d.C. era Josefo ben Caifás, que havia se casado com a filha de Anás ben Sete, antigo sumo-sacedote e pai e outros cinco também sumo sacerdotes, que exerceram em períodos distintos, tanto antes, quanto depois de Caifas. No entanto, como nos explica Lucas: "Sendo Anás e Caifás (ambos) sumos sacerdotes, veio no deserto a palavra de Deus a João, filho de Zacarias." (Lucas 3:2), Anás era quem, na verdade, ainda detinha o maior efetivo poder no Sinédrio, sendo seguido por seu genro.
Sendo Anás e Caifás sumos sacerdotes, veio no deserto a palavra de Deus a João, filho de Zacarias.

Lucas 3:2
Sendo Anás e Caifás sumos sacerdotes, veio no deserto a palavra de Deus a João, filho de Zacarias.

Lucas 3:2
Sendo Anás e Caifás sumos sacerdotes, veio no deserto a palavra de Deus a João, filho de Zacarias.

Lucas 3:2
Sendo Anás e Caifás sumos sacerdotes, veio no deserto a palavra de Deus a João, filho de Zacarias.

Lucas 3:2

O filósofo judeu Filo, indica que no período romano, o sinédrio podia julgar violações ao templo, cuja pena era capital, e isso explicaria as mortes de Estevão (Atos 7:58-60) e Tiago. Gentios que eram pegos ultrapassando o recinto do templo eram avisados sobre a pena de morte automática. Porém, o Novo Testamento e o Talmude discordam de Filo nesse ponto de vista, de modo que não podemos afirmar se o sinédrio tinha, ou não, um poder de punição capital, ou se as mortes de Estevão e Tiago foram atos de exceção.

No julgamento de Jesus, as autoridades estavam convencidas em envolver o governador romano Pilatos, que por si só poderia mandar matar Jesus (João 18:31). De acordo com o Talmude, o sinédrio perdeu o privilegio de executar punição capital "quarenta anos antes da destruição do (segundo) templo", que se deu no ano 70 d.C, ou seja, por volta da época da morte de Jesus, não sendo possível se precisar ao certo.

Não obstante, o mais provável é que nesses momentos, a “potestas gladii”, isto é, a capacidade de ditar uma sentença de morte, estivesse reservada ao governador romano (“prefectus”), que como era habitual, teria recebido do imperador romano amplos poderes judiciais, entre eles e os de pena de morte. O Sinédrio, portanto, embora pudesse julgar as causas que lhes eram próprias, não tinham poder de condenar ninguém a morte.

De qualquer modo, o seu lugar de referência do Sinédrio era o templo de Jerusalém e, por oportunizar decisões políticas e criminais, o templo passou a ser considerado, simultaneamente, um centro político, jurídico e religioso. Após ser preso Jesus tinha que ser julgado pelo Sinédrio de Jerusalém pois, sendo Judeu, tinha que passar por aquela instância. Todavia, a reunião de seus membros do Sinédrio, durante a noite, para interrogar Jesus, foi apenas uma investigação preliminar, com a finalidade de definir as acusações que poderiam ser formuladas e que mereceriam a pena capital, para apresentá-las, na manhã seguinte contra Jesus, no processo perante o Prefeito romano.

Sabemos, ainda, que o apostolo Paulo, quando preso, temendo que o condenassem a morte, alegou o título de cidadão Romano exigindo julgamento em pela justiça romana, foi o que aconteceu, em parte, tendo ele sido enviado a Roma. Antes disso, o mesmo Paulo havia se indignado por saber que o entendimento sobre a morte e a ressurreição de Jesus Cristo havia sido removido da mente dos Gálatas. Se a lei estava prestes a ser restabelecida na Igreja, a morte de Cristo não havia surtido efeito naquela comunidade.

As palavras de Paulo foram, então, aparentemente duras. Ele, que no passado foi grande defensor da lei e que percebeu ser ela um grande empecilho para enxergar a graça de Jesus, se vê agora fazendo o papel oposto: Mostrar que a graça é superior à lei. Quando Paulo apresentou o Evangelho àquela igreja, a igreja creu na sua pregação, agora distante, ouviu rumores sobre “Outro Evangelho”.

Assim, Paulo confronta os irmãos, argumentando severamente com os Gálatas:

Ó insensatos gálatas! quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade, a vós, perante os olhos de quem Jesus Cristo foi evidenciado, crucificado, entre vós? Só quisera saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne? Será em vão que tenhais padecido tanto? Se é que isso também foi em vão. Aquele, pois, que vos dá o Espírito, e que opera maravilhas entre vós, o faz pelas obras da lei, ou pela pregação da fé? (Gálatas 3:1-5)

O apóstolo Paulo ficou perplexo com a rapidez com que os crentes gálatas haviam se desviado da fé. Eram filhos da fé de Paulo, foram evangelizados e doutrinados pelo apóstolo. Tão depressa se desviaram para seguir a estranhos, e o pior, um evangelho contraditório.

Paulo começa a defesa de seu evangelho relembrando aos Gálatas de que sua vida cristã, que teve início com Cristo crucificado e foi certificada pelo Espírito Santo, estava completamente separada da lei. Eles seriam tolos de abandonar o caminho de Deus e tentar alcançar a perfeição por seus próprios esforços, como vinham fazendo muitos dos judeus do tempo de Jesus, e muitos o fazem até os dias de hoje.

Sobre esse evangelho, cuja ação é questionada, como dom espiritual dos Gálatas, encontramos a mesma argumentação em Galatas 2:7-9. Paulo explica aos Gálatas que sua preferência na obediência da lei significa uma recaída na situação que eles há muito haviam superado. A lei, por sua vez, não pode modificar a superioridade do Evangelho dado por Cristo.

Paulo finaliza esta passagem revelando que o Espírito Santo, que opera milagres, que dá entendimento e que foi concedido mediante a Fé, adquiriu algo que em muito supera a lei (Galatas 3:5). Foi muito difícil para a Igreja primitiva, constituída a princípio de judeus, aceitarem também que a porta da fé foi aberta, igualmente, aos nós gentios. Todos os pactos, a adoção de filhos, as alianças, as promessas, que antes foram dados ao povo judeu, agora passavam aos cristão de todas as raças, línguas e nações: Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência. (Romanos 9:8)

Deus trouxe uma revelação bem clara ao apóstolo Pedro, através daquele lençol que descia do céu, com todo tipo de animais, que para os judeus eram imundos (Atos 10:9-48), que nós gentios também fomos feitos um com eles (Efésios 2:14). Os legalistas desviam os olhos de cristão incautos, da graça de Jesus para a letra morta da lei feita para o velho homem. Entretanto, os gálatas não tinham desculpas, pois Paulo havia lhes deixado bem claro o significado da morte e da ressurreição de Jesus.

Os judeus consideravam Abraão como seu pai e fonte de suas bênçãos espirituais. Eles acreditavam (e muitos ainda creem) que a simples ascendência física de Abraão os torna justos. Paulo mostra que Abraão agradou a Deus pela fé, e não por realizar obras da lei, uma vez que a lei sequer existia na época de Abraão.

Ele também insiste que os verdadeiros filhos de Abraão, e herdeiros da bênção prometida, são aqueles que vivem pelo princípio da fé. Paulo apresenta as alternativas da fé (Gálatas 3:11), e da lei (Gl 3:12) como formas de justificação. Entretanto, ao invés de justificar, a lei mal diz (Gl 3:10), pois ela faz exigências que o homem, de fato, nunca logrou cumprir.


O legalismo está fundamentado no uso inadequado da lei. Quando abraçamos o legalismo, abrimos a porta para a feitiçaria entrar nas nossas vidas. O legalismo libera uma feitiçaria, um fascínio demoníaco (tal qual as abominações do conselho de anciãos que o Espírito de Jeová mostrou a Ezequiel), que se manifesta através da manipulação, da dominação e da intimidação, que roubam nossa sensibilidade e nosso bom senso em relação ao Evangelho.

Ao invés de desenvolver uma comunhão entre os irmãos, o legalismo faz com que os líderes ajam com extrema severidade e, em geral, sem misericórdia. No sei da igreja a pessoa legalista se irrita por questões insignificantes e amorais, fazendo com que a igreja se distraia do seu real propósito. Assim, qual é o fruto do legalismo, se não a morte? Por isso, produzir fruto é uma questão de relacionamento pessoal com Deus, e não de esforço em agradar a homens. Na verdade, o legalismo pode, mesmo, destruir o relacionamento e a unidade do corpo de Cristo.

Que intrigante e curioso é esta passagem de gálatas 3. O Apóstolo Paulo chamando uma Igreja, pessoas ditas evangélicas, chamando "Ò Gálatas insensatos!". Ora, parece uma postura arrogante e provocativa do Apóstolo. A impressão que se tem é que ele estava provocando aquelas pessoas, sendo arrogante, mas não, esta passagem nos mostra o quanto isso indignava Paulo e quanto Jeová os amava por meio dele, porque o Senhor corrige o que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho. (Hebreus 12:6). Ver os gentios que eram selos do apostolado de Paulo vivendo debaixo das obras da lei. Isto indignava o coração daquele Apóstolo.

Alguém pode se perguntar: Uma Igreja que se diz cristã, evangélica pode se tornar insensata? Eu achei que todos os lugares que tem uma placa dizendo “igreja” são bons! São lugares de Deus onde se vive corretamente o evangelho: pode uma igreja se tornar insensata? Porque Paulo está dizendo isto a uma igreja: “vocês são insensatos”? Pode uma igreja se tornar ignorante espiritualmente? Viver algo que não está correto? Tanto pode que isto estava, de fato, acontecendo com os Gálatas.

A verdade a ser aplicada é que a pregação do evangelho tem por objetivo a apresentação de Cristo como o provedor, não apenas da salvação para a vida eterna para os que nele creem, como, também, de uma liberdade superior, desde já, como integrantes da ordem superior, que é o corpo de Cristo. A lição a ser apreendida reitera que pela lei ninguém é justificado diante de Deus, e alerta sobre as distorções teológicas que solapam a fé de muitos, se não estiver sabido, plenamente, que o evangelho é o único meio externo da graça salvadora.

A Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, para que a promessa pela fé em Jesus Cristo fosse dada aos crentes. (Gálatas 3:22). Se fosse possível o homem ser salvo por meio da lei ou de seus próprios recursos, não haveria necessidade de Jesus, o Salvador, vir ao mundo. Como podeis murmurar, cristãos, duvidando, se aquilo que recebestes é algo que supera, em muito, qualquer coisa que foi recebida, por quaisquer dos outros que temem o nome do Senhor, mas que não atingem reconhecer a glória do seu Cristo?

O cristão foi colocado, em sua conversão, em um excelente lugar: no próprio corpo de Cristo, segundo Paulo já havia escrito aos coríntios (1 Co 12:13). Estando nele, estamos envolvidos na obra que Deus está realizando no mundo, e nessa posição, veremos diversas portas grandes e eficazes de abrindo diante de nós. Deus nos chamou para, por intermédio de nossas vidas, cumprir Seus propósitos soberanos, enquanto aguardamos o retorno do Salvador. Mas não devemos ignorar que teremos oposição, sempre.

A fé nos diz que nós já fomos curados, restaurados, perdoados, a fé nos diz que já somos mais que vencedores, e podemos todas as coisas naquele que nos fortalece, a fé. É justamente a fé, que nos impede, inclusive, também, de tropeçarmos murmurando contra o nosso Deus. Enfim, não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo, que abundantemente ele derramou sobre nós por Jesus Cristo nosso Salvador. (Tito 3:5-6). Acredite, se quiser!

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