O mundo que a humanidade criou não é bom em sua essência e a vida nele não é bela, e quem insiste em afirmar o contrário disso, ou mente para os outros ou tenta enganar a si próprio. A sociedade está afetada de profundos males. O espetáculo das corrupções, do impudor, que em torno de nós se ostentam, a febre das riquezas, o luxo insolente, o frenesi da especulação que, em sua avidez, chega a esgotar, a estancar as fontes naturais da produção, a miséria, a violência, o tráfico e a dependência de drogas, tudo isso enche de tristeza o pensador.
Seria tal resultado o fruto do simples acaso, reflexo da irremediável inadequação e incapacidade humana para a felicidade, ou será que tal resultado está consoante com o interesse de quem governa o mundo?
Apesar dos esforços de pessoas bem-intencionadas, o mundo tem sofrido terrivelmente no decorrer da sua história. Isto faz com que pessoas refletivas se perguntem: “Paz na Terra” – quase todo mundo deseja isso. “Boa vontade para com os homens” – quase todos os povos do mundo nutrem tal sentimento de uns para com os outros. Então, o que há de errado? Por que se fazem ameaças de guerra apesar dos desejos inatos dos povos?”
Parece um paradoxo, não parece? Ao passo que o desejo natural das pessoas é viver em paz, elas comumente se odeiam e matam umas às outras – e com tanta depravação! Considere as monstruosas crueldades cometidas a sangue frio. Os seres humanos têm usado câmaras de gás, campos de concentração, lança-chamas, bombas napalm e outros hediondos métodos para torturar e matar uns aos outros sem piedade, crimes comuns como assassinatos e latrocínios ocorrem diariamente de forma banal.
A questão é: será que devemos crer que os seres humanos, que anseiam a paz e a felicidade, sejam capazes, por si sós, de cometer tão crassa perversidade uns contra outros, seus semelhantes? Já se perguntou alguma vez se existe alguma força que impulsiona ou que direciona os seres humanos a atos repulsivos? Se existe alguma força perversa, invisível, que influencia as pessoas a cometerem tais atos de violência, fazendo-as sentirem-se compelidas a tais atrocidades? Existe poder exterior capaz de conduzir uma mente humana a loucura e a insanidade?
Quem realmente governa o mundo? Muitos, notadamente as pessoas mais simples, responderiam à pergunta acima com uma só palavra – Deus. Mas é significativo que em parte alguma a Bíblia, que é a Palavra de Deus, nos afirme que Jesus Cristo ou seu Pai sejam os verdadeiros governantes deste mundo. Ao contrário, Jesus disse: “Será lançado fora o governante deste mundo.” E acrescentou: “O governante do mundo está chegando. E ele não tem nenhum poder sobre mim.” – Jo 12:31; 14:30; 16:11. Dai, eu concluo que o governante deste mundo esteja, de fato, operando em oposição a Jesus.
Eu creio que a Bíblia nos mostra claramente que há alguém inteligente, invisível, controlando tanto homens como nações. Ela nos diz: “O mundo inteiro jaz no poder do iníquo.” E a Bíblia o identifica-o, dizendo: “O chamado diabo e satanás... está desencaminhando toda a terra habitada”. – 1 Jo 5:19; Re (Ap) 12:9.
Certa ocasião, ao ser “tentado pelo diabo”, Jesus não contestou o papel de Satanás como governante desse mundo. A Bíblia explica o que aconteceu: “O diabo levou-o a um monte extraordinariamente alto e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles, e disse-lhe: “Todas estas coisas te darei, se te prostrares e me fizeres um ato de adoração.” Jesus disse-lhe então: “Vai-te, satanás!” – Mt 4:8-10.
Pense nisso, satanás tentou Jesus por oferecer-lhe “todos os reinos do mundo”. Mas, teria a oferta de satanás constituído uma genuína tentação se satanás não fosse realmente o governante daqueles reinos? Não, não teria. E note que Jesus não negou que todos aqueles governos do mundo pertencessem a satanás, o que certamente teria feito se satanás não tivesse poder sobre eles. Assim sendo, satanás, o diabo, é realmente o governante desse mundo! De fato, a Bíblia o chama de “o deus deste sistema de coisas”. (2 Co 4:4).
Deste modo, o mundo que conhecemos e que vivemos (não o planeta Terra em si, ou a sua natureza, mas os sistemas e os modos de vida humanos) é hoje um lugar ruim, desagradável e fonte de malefícios para os próprios seres humanos. Não é a toa que, em seu desespero, por viver sob tais circunstâncias, os homens, sob a influência e interesse do governante deste mundo, inventem coisas do tipo do conceito filosófico do niilismo, criado no século XIX e que afeta as mais diferentes esferas do mundo contemporâneo (literatura, arte, ciências humanas, teorias sociais, ética e moral).
O niilismo é a desvalorização e a morte do “sentido da vida”, a ausência de “finalidade” e de resposta ao “porquê”. Os valores tradicionais depreciam-se e os "princípios e critérios absolutos dissolvem-se". Segundo o conceito filosófico do niilismo, "tudo é sacudido, posto radicalmente em discussão. A superfície, antes congelada, das verdades e dos valores tradicionais está despedaçada e torna-se difícil prosseguir no caminho, avistar um ancoradouro". Pela sua forma de abordagem crítica, o niilismo leva o homem a acreditar na “abissal ausência de cada fundamento, de cada verdade, de cada critério absoluto e universal” e, convoca-os, por fim, a assumir total controle da sua “própria liberdade e responsabilidade, agora não mais garantidas, nem sufocadas e nem controladas por nada".
Mas, nesta dinâmica prevalecem também traços destruidores, como os do declínio, do ressentimento, da incapacidade de avançar, da paralisia, do “vale-tudo” e do perigoso silogismo ilustrado pela frase do personagem de Dostoiévski: "Se Deus está morto, então tudo é permitido". Entende-se por Deus neste ponto como a verdade e o princípio, que se esvaziaram, segundo o entendimento do niilismo.
Assim, o niilismo é, em suma, a “arte de negar a Deus”, todavia, a negação de Deus, já existia, muito tempo antes do niilismo ser inventado. De fato, até mesmo o primeiro homem que veio a existência, negou ao seu Deus criador, desprezou-lhe a soberania por desobedecê-lo em uma única proibição restritiva que Ele estabelecera. E, como consequência de nossa queda por desobediência, desde o princípio orquestrada pelo governante deste mundo, é que Deus passou nos instar continuamente: “Sê sábio, filho meu, e alegra meu coração, para que eu possa replicar àquele que me escarnece.” - Pr. 27:11 e ainda nos esclarece, assim como confessou o profeta Jeremias: “Eu sei, ó Senhor, que não é do homem o seu caminho, nem do homem que caminha o dirigir os seus passos” - Jr 10:23.
Friedrich Nietzsche, um influente filósofo alemão do século XIX, que intitulou a si próprio, a seu tempo, de “o primeiro niilista de fato”, pretendeu ser o grande "desmascarador" de todos os preconceitos e ilusões do gênero humano, aquele que ousa olhar, sem temor, aquilo que se esconde por trás de valores universalmente aceitos, por trás das grandes e pequenas verdades melhor assentadas, por trás dos ideais que serviram de base para a civilização e nortearam o rumo dos acontecimentos históricos.
A cultura ocidental e suas religiões, assim como a moral judaico-cristã, foram temas comuns nas obras de Nietzsche, que também se intitulava ateu: "Para mim o ateísmo não é nem uma consequência, nem mesmo um fato novo: existe comigo por instinto". Aos 35 anos de idade seu estado de saúde obrigou-o a deixar o seu posto de professor de filologia na universidade de Basileia, pois sua voz, inaudível, afastava os alunos. Nietzsche começa então a escrever em um ritmo crescente, manobrando a língua alemã escrita como ninguém antes, e, aos poucos vai sendo devastado por uma miopia que atinge até 15 graus, que o fazia andar como que às cegas, tateando com as mãos ou com a bengala o perigoso espaço embaçado que imaginava na sua frente, até que, em 3 de Janeiro de 1889, quando, aos 44 anos de idade foi acometido de uma "crise de loucura" que o coloca sob a tutela da sua mãe e de sua irmã, até a sua morte, aos 55 anos de idade.
No niilismo, o mundo não tem ordem, estrutura, forma e inteligência. Nele, as coisas "dançam nos pés do acaso" e somente a arte pode transfigurar a desordem do mundo em beleza e fazer aceitável tudo aquilo que há de problemático e terrível na vida. A verdade é sempre subjetiva"; "Deus está morto: não existe qualquer instância superior, eterna. O Homem depende apenas de si mesmo";
Para Nietzsche, a liberdade não é mais que a aceitação consciente de um destino necessitante. O homem libertado de qualquer vínculo, senhor de si mesmo e dos outros, o homem desprezador de qualquer verdade estabelecida ou por estabelecer e estar apto para se exprimir a vida, em todos os seus atos - era este não apenas o ideal apontado por Nietzsche para o futuro, mas a realidade que ele mesmo tentava personificar.
"'Que é o bom?' − diz Friedrich Nietzsche [em O Anticristo].
− O poder!
Que é o mau?
− A fraqueza!
Que é a felicidade?
− O sentimento de que o poder se engrandece, de que foi superada uma resistência. Comedimento, não; porém mais poder; não a paz antes de tudo, mas a guerra; não a virtude, mas o valor! Pereçam os fracos e os estropiados. E que ainda os ajudemos a desaparecer.
Que pode haver de mais pernicioso do qualquer vício?
− A piedade pelos fracos e desclassificados!”
Eis aí, o que os escritores e filósofos materialistas difundem nas folhas públicas. Têm eles verdadeiramente consciência da responsabilidade que contraem? Consideram a safra que tal sementeira produzirá? Sabem que, vulgarizando essas doutrinas desesperadoras e iníquas, metem na mão dos deserdados a tocha dos incêndios e os instrumentos de morte?
Essas doutrinas parecem, a primeira vista, ser inofensivas e ter a propriedade de acalmar ou fazer cessar as dores, inofensivas aos felizes, aos satisfeitos, aos céticos que gozam, que possuem com o necessário o supérfluo, e com elas justificam todos os seus apetites, desculpam todos os seus vícios; mas os que a sorte fere, os que padecem e sofrem, que uso, que aplicação farão de tais doutrinas?
A enorme polêmica que envolve até hoje a real importância do pensamento de Nietzsche para o surgimento do nazismo, ou pelo menos fornecendo-lhe o vocabulário estridente e várias expressões ideológicas, nos obriga a arrolar a evidente similitude do pensamento nietzscheano com o que veio a acontecer depois na Alemanha de 1933. Afinal, a irmã dele, Elizabeth Vöster-Nietzsche deu a bengala do filósofo de presente para Hitler, quando ele visitou-a em Weimar em 1932. Para ela, aquele presente foi um símbolo que representou a transmissão de uma missão! Do teórico ao prático. Do filósofo, que passara os seus últimos anos de vida alienado e entrevado, ao homem capaz de ação efetiva.
Ao que parece, Friedrich Nietzsche não era a princípio antissemita, apenas anticristão, entretanto parece que Elizabeth Nietzsche, durante os anos que tomou conta do irmão, aproveitou-se da condição física do mesmo para modificar os trabalhos que ele havia escrito, principalmente os trabalhos relacionados a sua posição perante outras raças, mudando assim o sentido de muitas de suas dissertações e teorias. É de conhecimento público o apreço que ela tinha pelo antissemitismo.
Algumas errôneas ciências, que buscam se identificar como ciências da matéria mas que, e fato, são humanas e em nada têm a ver com as ciências físicas, com as suas implacáveis afirmações, com as suas inexoráveis leis da hereditariedade e do atavismo, quando ensina que a fatalidade e a força regem o mundo, aniquila todo impulso, toda energia moral nos fracos e nos deserdados da existência; faz penetrar o desespero no lar de inúmeras famílias e instila o seu veneno até o âmago das sociedades!
Os materialistas, ao esforçarem se em apagar o nome de Deus no coração do povo, dizendo-lhes que tudo se resume nos prazeres da Terra; que todos os apetites são legítimos e que a vida é uma sombra efêmera, fazem o povo assim acreditar; calando-se as vozes íntimas que lhe falavam de esperança e de justiça. As almas fecharam-se à fé, para se abrirem às más paixões: o egoísmo que expulsa a piedade, o desinteresse e a fraternidade e a paixão pela destruição, por si só, é tida uma paixão criativa.
Apesar de Nietzsche ter visto Bakunin como um teórico do ressentimento ou desejo reativo, as suas próprias teorias herdaram daquele muito da sua essência, não apenas no que diz respeito das relações do homem com o seu poder superior, o seu Deus, como também para a doutrina das interações humanas contida nela. Para Bkunin, "(...) se Deus existisse, só haveria para ele um único meio de servir à liberdade humana: seria o de cessar de existir."
Sem ideal em sua triste vida, sem fé no futuro, sem luz moral, o homem retrocede-se ao estado bestial; sente o despertar dos seus ferozes instintos, entrega-se à cobiça, à inveja, aos arrastamentos desordenados. E agora, as feras rugem na sombra, tendo no coração o ódio e a raiva, prontas a despedaçar, a destruir, a amontoar ruínas sobre ruínas, ao comando do interesse do verdadeiro governante deste mundo.
O homem hipermoderno substitui a autoridade divina pela História, pela tecnociência, a razão e o progresso. Iludido de que é livre em função das possibilidades que a sociedade de consumo oferece, esse homem tem no individualismo o cerne de suas relações sociais, “apesar de um discurso vago e propagado de solidariedade, numa era de democracia digital”.
A ideia do Super-homem de Nietzsche era de um ser que haveria alcançado o estágio superior, separando-se da piedade, do sofrimento, da tolerância e da fraqueza. O super-homem também não acreditaria em Deus, aproveitando o máximo de sua vida, sendo também capaz de determinar o bem e o mal sem a intromissão de nada exterior a ele. A felicidade desse super-homem só seria alcançada pela capacidade de determinar seus próprios valores, que deveriam estar sempre em estado constante de mudança, que para Nietzsche era a fonte do prazer.
Isso equivale a estender a máxima de Bakunin quando aquele afirma que: "A Liberdade do outro estende a minha ao infinito." Todavia, como na ordem das coisas tudo se encadeia, tudo produz os seus frutos, o mal profusamente semeado parece, de modo natural, atrair após si a dor e a tempestade. Esse é o aspecto formidável da situação. Parece que aos poucos vamos atingindo não a verdadeira paz mas, uma hora sombria da História humana.
Desgraçados dos que sufocaram as vozes da consciência, que assassinaram o ideal puro e desinteressado, que ensinaram ao povo que tudo era matéria, e a morte, o nada! Desgraçados dos que não quiseram compreender que todo ser humano tem direito à existência, à luz e, mais ainda, à vida espiritual; que deram o exemplo do egoísmo, do sensualismo e da imoralidade! "Felizes os cônscios de sua necessidade espiritual, porque a eles pertence o reino dos céus.” (Mat. 5:3)
Contra essa sociedade que não oferece ao homem nem amparo, nem consolação, nem apoio moral, uma tempestade furiosa se prepara, ainda maior que todas as tempestades que se levantaram outrora. Raios do seio das multidões, por vezes continuam a fuzilar, a hora da cólera se avizinha. Porque não é sem perigo que se comprime a alma humana, que se impede a evolução moral do mundo, que se encerra o pensamento no círculo de ferro do ceticismo e do negativismo.
Chega um dia em que esse pensamento retrocede violentamente, em que as camadas sociais são abaladas por terríveis convulsões e não se pode culpar a ninguém disso, a não ser a consequência do proceder do próprio homem.
Ergue, porém, a tua fronte, ó homem! Recobra a esperança. Um novo clarão vai descer dos espaços e iluminar o teu caminho. Tudo o que até agora te ensinaram era estéril e incompleto. Os materialistas não perceberam das coisas mais que a aparência e a superfície. Eles não conhecem da vida infinita senão os aspectos inferiores. O sonho deles é um pesadelo.
Quanto a mim, eu vou continuar esperando no Senhor, confiando Nele, pois sei que o mais Ele o fará. Eu e minha casa serviremos ao Senhor. Assim, como eu espero no Senhor, em tudo, o Senhor também espera de mim algumas coisas simples: "Já te foi dito, ó homem, o que convém, o que o Senhor reclama de ti: que pratiques a justiça, que ames a bondade, e que andes com humildade diante do teu Deus." Mq 6:8.