Ruinas de Harã, sítio arqueológico no sul da Turquia (hoje)
6º. Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter.
7º. Humildemente pedimos a Ele que removesse nossos defeitos.
Eu creio que NÃO caiba aqui, nestes passos, qualquer ênfase à pergunta “Será que eu reconheço que não tenho condições de salvar a mim mesmo?”, pois se assim for, se essa pergunta ainda tiver que ser feita, significa que eu não deveria ter avançado para além do passo 2 e que eu preciso, de fato, voltar a ele (Passo 2), agora.
Entretanto eu posso sim, tão somente recordar, que eu já tenho a resposta para esta questão a fim de me ASSEVERAR, de que eu possuo a base e que eu posso, com toda firmeza, seguir em frente.
Este é o ponto exato em que eu tenho que abandonar, que eu tenho que abdicar dos meus próprios objetivos limitados e avançar em direção à perfeita vontade de Deus para conosco.
Nem sempre é fácil conhecer a "vontade de Deus", e, ainda existe a questão que eu cheguei até aqui concebendo meu próprio Deus “da maneira como eu o compreendia” até então, de modo que, eu, particularmente, não consigo vislumbrar uma via de progresso na minha recuperação, para além (desses Passos 6 e 7), sem que o conceito de Deus se torne algo absolutamente claro e consistente para mim.
Aqui, nestes Passos 6 e 7, eu e o meu Deus passaremos a AGIR CONJUNTAMENTE, a fim de remover os meus próprios "defeitos de caráter", as minhas "imperfeições", de modo que, um exato conceito daquilo que é e daquilo que não é um "defeito de caráter", daquilo que é e daquilo que não é uma "imperfeição" e do que pode ser e do que não pode ser "aceitável a Deus", pode variar na mesma proporção em que varia a minha própria concepção sobre o meu Deus.
Então, está é a primeira grande questão aqui: ter a concepção do meu Deus, da maneira como eu o compreendo, de uma forma absolutamente clara e consistente. É por isso que se diz que em Narcóticos Anônimos nada é imposto, tudo é sugerido. O guia de passos do programa de recuperação de Narcóticos Anônimos é de suma importância (e também pé obra de Deus), mas cada qual passa agora a depender da sua exclusiva relação com o o seu próprio Deus, para seguir em frente.
O personagem bíblico Noé teve três filhos: Sem, Cão e Jafé. Depois do Dilúvio os filhos de Noé formaram originalmente uma única nação e a humanidade falava uma única língua. Todavia, como podemos constatar em Ge 10:25, nos tempos de Pelegue se repartiu a terra e conforme Ge 10:31, segundo suas famílias, segundo as suas línguas, nas suas terras, segundo as suas nações: a humanidade se encontrava então dividida. O capitulo 11 de Ge, narra como tal divisão sucedeu.
Ora, deslocando-se e espalhando-se em direção do oriente, os homens descobriram uma planície na terra de Babilônia e depressa a povoaram. E começaram a falar em construir uma grande cidade, para o que fizeram tijolos de terra bem cozida para servir de pedra de construção e usaram betume em vez de argamassa. E nessa cidade projetaram levantar uma torre altíssima que chegasse até aos céus, qualquer coisa que se tornasse um monumento a si próprios, tornado célebre os seus próprios nomes. Isto, disseram, impedirá que nos espalhemos ao acaso pela terra toda.
Tal projeto, muito provavelmente, foi intentado sob a chefia (ou reinado) de Nimrod (também grafado Ninrode ou Nemrod), que é um personagem biblico descrito como o primeiro poderoso na terra (Ge 10:8; 1Cr 1:10). Filho de Cuxe, que era filho de Cão, que era filho de Noé. Segundo a Wikipédia, os escritos rabínicos derivaram o nome Ninrode do verbo hebraico ma·rádh, que significa "rebelar". Assim, o Talmude Babilônico (Erubin 53a) declara: "Então, por que foi ele chamado de Ninrode? Porque incitou todo o mundo a se rebelar (himrid) contra a Sua soberania (contra a sabedoria e Deus).
Sobre este homem, Josefo escreveu: "Pouco a pouco, transformou o estado de coisas numa tirania, sustentando que a única maneira de afastar os homens do temor a Deus era fazê-los continuamente dependentes do seu próprio poder. Ele ameaçou vingar-se de Deus, se Este quisesse novamente inundar a terra; porque construiria uma torre mais alta do que poderia ser atingida pela água e vingaria a destruição dos seus antepassados. O povo estava ansioso de seguir este conselho, achando ser escravidão submeter-se a Deus; de modo que empreenderam construir a torre [...] e ela subiu com rapidez além de todas as expectativas." — Jewish Antiquities (Antiguidades Judaicas), I, 114, 115 (iv, 2, 3)
O Senhor desceu para ver a cidade e a torre que estavam a levantar e concluiu: se isto é o que eles já são capazes de fazer, sendo um só povo com uma só língua, não haverá limites para tudo o que ousarem fazer. Vamos descer e que a língua deles comece a diferenciar-se noutras línguas, de forma que uns não entendam os outros.
E foi dessa forma que o Senhor os espalhou sobre toda a face da terra, tendo cessado a construção daquela cidade. Por isso ficou a chamar-se Babel , porque foi ali que o Senhor diferenciou a língua dos homens, e espalhou-os por toda a terra.
Desde Adão, passando por Noé, seguido por Sem, após uma longa linhagem, chegamos a Abrão; O pai de Abrão, de nome Terá, saiu de Ur, que ficava na terra dos caldeus, sendo esta uma importante cidade do sul da Mesopotâmia e às margens do rio Eufrates. A Bíblia nos revela em Ge 11:31 que o destino final de Terá deveria mesmo ser Canaã, mas que de fato ele acabou vindo a se fixar em uma nova localidade, de nome Harã. Terá levou Abrão e Sarai consigo. Também levou seu neto, Ló, porque o pai de Ló, filho de Terá e irmão de Abrão, de nome Harã, havia morrido em Ur.
Estevão, de modo formidável nos revela que Deus apareceu a Abraão quando ele ainda estava em Ur dos Caldeus, ou seja, “enquanto ele estava na Mesopotâmia, antes de fixar residência em Harã” (At 7:2). Aqui vemos que Terá, pai de Abrão, saiu dali, com toda sua família, para ir à terra de Canaã, talvez movido por este chamado de Abrão, mas pararam em Harã, que ficava a uns 850 km a noroeste de Ur, e ali ficaram.
Segundo a Wikipédia, Harã, (em hebraico: חרן, harran, conhecido na antiguidade como Carrhae), é atualmente um sítio arqueológico no sul da Turquia. Harã também é o nome do irmão de Abrão (pai de Ló), falecido jovem quando o seu pai, Terá, ainda se encontrava em Ur dos caldeus. Tal fato explica o motivo do nome do lugar, pois, segundo o texto bíblico, Terá deixou Ur com Abraão, Naor, Ló e Sara com destino à Canaã, mas acabou estabelecendo-se num local que, apesar de chamar-se originalmente Carrhae, passou a ser denominado de Harã, em homenagem ao filho falecido.
Vemos aqui, que Deus já começava a trabalhar na vida de Abrão para levá-lo para a terra da promessa, mas seu pai não entendia isso com clareza e acabou atrasando este trabalho. O próprio Abrão não compreendera a dimensão da importância do chamado de Deus, se fixando em Harã junto com seu pai, de modo que, assim, Abrão precisou ser chamado duas vezes.
Com isso, nós podemos concluir que nenhuma outra pessoa pode impedir algum plano de Deus em nossas vidas, todavia, por estamos associados intimamente tal pessoa, esse alguém pode trazer atraso no plano de Deus. Assim, um parêntese se abriu na vida de Abrão até que Terá morreu, de modo que Terá não chegou a Canaã, pois morreu em Harã.
Não é possível precisar, nem mesmo a grosso modo, quanto tempo se passou desde o dia em que Deus fez diferenciar a língua falada pela humanidade, dispersando os seres humanos em diferentes nações, até o próximo evento importante, que é quando Deus chama a Abrão pela primeira vez.
No entanto, é possível sim, seguindo os eventos genealógicos desde Ge 11:10 até Ge 12:4 calcular o exato tempo entre o evento do dilúvio e a resultante partida de Abrão de Harã após Deus fazer a sua segunda chamada: transcorreram-se 367 anos. Portanto, foi um longo tempo, em que Deus interveio muito pouco nas questões humanas, de modo que, a obediência de Abrão, em atender ao segundo chamado de Deus, é um marco importante. De fato, nesta ocasião, no encontro entre Deus e Abrão, Ele tomou três iniciativas: Fez um chamado (Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei.), fez uma promessa (e far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome) e fez um desafio: e tu serás uma Benção! (Gn 12:1-3).
É quando chego ao meu Passo 6 e 7, que eu, adicto em recuperação, me vejo nas condições semelhantes a de Abrão no momento do seu segundo chamado, no momento em que me é dada mais uma derradeira chance, em que eu tenho que escolher abandonar, que eu tenho que optar por abdicar dos meus próprios objetivos limitados e avançar em direção à perfeita vontade de Deus para comigo. Olho então para o sexto passo e concluo que a boa vontade é indispensável.
Será que se Abrão tivesse seguido apenas parcialmente ao seu segundo chamado da parte de Deus, ele teria tido, posteriormente, outras chances extra de fazê-lo? O Senhor é bom e Sua misericórdia dura para sempre, todavia, não devemos tentar ao Senhor nosso Deus, relembro que nem mesmo Jesus, o filho unigênito, ousou fazer isso.
Ao que tudo indica, depois de Noé, nenhum outro homem havia tido ainda o privilégio de “falar com Deus”, isto só vinha a acontecer novamente agora, com Abrão. Fora o fato de que Deus dividiu a humanidade segundo as línguas, pouco Ele havia intervindo por um longo período na história humana e a falta de contato íntimo apaga qualquer temor, em outras palavras, quando Deus insta Abraão a deixar o conforto da sua casa e da sua parentela, por que ele deveria ele acatar?
Todavia, como sabemos, Abraão acatou e pouco depois, Abraão e os de sua casa saíram de Harã e partiram para Canaã. Ali Jeová disse: ‘Esta é a terra que darei aos seus filhos.’ Abraão ficou em Canaã e viveu em tendas. Deus passou a ajudar a Abraão, e este veio a ter muitos rebanhos de ovelhas e de outros animais, e centenas de servos. Abração passou a ser tido como amigo de Deus.
A história da chamada de Abrão serve como base para duas lições importantes:
Em primeiro lugar aprendemos que, no relacionamento entre o homem e Deus, é sempre Deus quem toma a iniciativa. De fato, o livro de Josué nos revela que Abrão pertencia a uma família pagã, que adorava falsos deuses (Js 24:2). Somente por iniciativa do Deus verdadeiro aquele homem virou as costas para a religião de sua família e se tornou obediente ao Senhor. Quer maior eliminação de defeito de caráter do que essa, a de deixar de adorar coisas que não são deus para passar a adorar e obedecer ao verdadeiro Deus amoroso.
É sempre Deus quem dá o primeiro passo na busca do homem perdido já que, como ensina Paulo, "não há ninguém que tenha perspicácia, não há ninguém que busque a Deus." (Rm 3:11). Lembremos ainda que Jesus ensinou isso claramente quando disse: "Ninguém pode vir a mim, a menos que o Pai, que me enviou, o atraia; ..." (Jo 6.44). Assim, aqueles que buscam a Deus e andam com Ele devem reconhecer com humilde e gratidão que só fazem isso porque o próprio Senhor, por sua graça e misericórdia, um dia os impulsionou. Assim Deus elimina do coração do homem uma grave imperfeição, por semear nele a humildade.
Em segundo lugar, a história da chamada de Abrão nos ensina algo sobre “fé”. De fato, o autor da carta aos Hebreus nos diz: "Pela fé Abraão, quando chamado, obedeceu, saindo para um lugar que estava destinado a receber em herança; e ele saiu, embora não soubesse para onde ia." (Hb 11:8). Nesse texto, vemos a forte conexão entre fé e obediência. Não se trata de uma obediência qualquer, mas uma obediência que se realiza, mesmo quando aquele que crê não entende o que Deus tem em mente.
Assim, o homem de fé é aquele que obedece mesmo sem compreender as razões ou os propósitos das orientações de Deus. Ele obedece porque sabe que Deus é Deus e que seus caminhos não podem ser submetidos ao julgamento da limitada mente humana: é a fé da obediência incondicional. Assim, Deus eliminou qualquer traço de imperfeição da rebeldia e despertou a fé genuína de seu amigo Abrão.
Com isso, Abrão desenvolveu-se como um dos maiores homens de todos s tempos, um homem centrado, um homem dado a assertividade, que sabia de verdade o que queria e aonde queria chegar; que partia sempre de um pensamento realmente positivo; que sabia ser proativo para atingir os resultados.
Além de estimado pelo seu próprio Deus, Abrão se tornou um homem de grande autoestima, de enorme determinação, um homem que desenvolvia empatia com facilidade, um homem mais sociável, de maior adaptabilidade, maior autocontrole, tolerante a frustrações (dotado de resiliência), capaz de aceitar que não se pode apenas ouvir “sim”, pois exite o “não” que é pertinente e justo. Isto significa aceitar a diversidade humana.
Existem pessoas mais resistentes à frustração que outras. Algumas pessoas passam por problemas sérios, morre-lhes um ente querido, são demitido de bons empregos, leva um fora de uma namorada, mas ficam firmes. Estes são os resilientes. Tem crianças que viveram maus tratos, pobreza, ambiente familiar conflituoso e ainda assim, se tornaram adultos bem ajustados. Novamente são os resilientes. Outros, se descompensam com qualquer coisa, nas suas relações com outros homens não conseguem ser como Abrão, não conseguem ser assertivos e manter-se no justo meio termo entre dois extremos inadequados, um por excesso (agressão), outro por falta (submissão).
Se você já é como Abrão, parabéns, se não, saiba que nem tudo está perdido, há como desenvolver resistência à frustração (resiliência) e assertividade, há como aprender a vencer as frustrações da vida e ter relacionamentos bem sucedidos. Busque com sinceridade a ajuda de Deus, peça a Ele de contínuo, por ajuda, Ele por fim ouvirá ao seu clamor aflito e dará o primeiro passo em sua direção, de modo que, você passará também a ser um escolhido dEle.
Antes de tudo, procure sempre se lembrar: … aquele que olha de perto para a lei perfeita que pertence à liberdade (que é a Bíblia, a Palavra de Deus) e que persiste nisso, este, porque se tornou, não ouvinte esquecediço, mas fazedor da obra, será feliz em fazê-la. (Tg 1:25).